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Para os portugueses, a Maratona de Londres sempre foi associada a António Pinto. Rosa Mota também a ganhou, Manuela Machado, Aurora Cunha e Manuel Matias foram ao pódio, mas nenhum se aproximou dos três triunfos (1992, 97 e 2000), um segundo lugar (1999) e três terceiros (1995, 98 e 2001) do amarantino de 44 anos, que também por lá bateu o recorde da Europa, ainda em vigor.
A década de 90 e os primeiros anos do novo século levaram dezenas de portugueses a correr na capital britânica, pois esses êxitos faziam com que a sua maratona fosse olhada como a melhor do mundo, um estatuto sempre difícil de atribuir. Hoje, António Pinto fará mais 42,195 km no alcatrão londrino, mas regressa enquadrado naqueles que se podem considerar os novos tempos da corrida: vai acompanhar Mário Ferreira, uma das muitas celebridades que fazem com que uma "segunda corrida" se aproxime em protagonismo daquela que será discutida entre Samuel Wanjiru, Abel Kirui, Tsegay Kebede e Duncan Kibet, cujos nomes dizem tudo: são africanos. Para um europeu, será mais importante saber qual deles ganha ou se Richard Branson, dono da Virgin e novo patrocinador da corrida, consegue chegar ao fim fazendo a sua estreia aos 60 anos?...
A Maratona de Londres, como todas as maiores do mundo, sempre teve várias corridas dentro de uma só. As partidas são três, repartidas entre as destinadas aos atletas profissionais e cadeiras de rodas, as celebridades e o "povo", e as animações paralelas imensas. Há uma chuva de recordes para tentar bater e o primeiro chegou ontem, quando 37 527 dorsais foram levantados no O2 Dome, onde a corrida monta uma feira descomunal e difícil de descrever. Mas ali, onde tudo o relacionado com atletismo se vende, também estão bem patentes os novos tempos: Branson era a grande estrela, acompanhado de "maratonistas" surpresa como a cantora Natalie Imbruglia, e António Pinto, ainda o melhor europeu da corrida, passava desapercebido, sendo apenas cumprimentado por antigos companheiros de estrada...
Mário Ferreira
"Vou enfrentar o desconhecido"
"Não me conseguem desmoralizar. Como tenho o hábito de saber o que faço, só não me agrada muito o que esta maratona representa: vou enfrentar o desconhecido", comentou ontem Mário Ferreira, futuro astronauta português, depois de várias provocações dos seus dois treinadores e companheiros de estrada, Paulo Catarino e António Pinto. O grupo de portugueses completa-se com Carlos Marinho, que pretende ser o primeiro matemático a terminar a Maratona de Londres, e Luís Melo. O quinteto, embora parta de locais diferentes, vai tentar fazer a corrida em conjunto.
