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Parece mentira, mas é a nova realidade que a crise trouxe a Portugal. Hélder Rodrigues (Yamaha), campeão do mundo de ralis de todo-o-terreno, sabe que tem projecto garantido até 15 de Janeiro, dia em que termina o Dacar. Depois, é a incógnita. "Não, depois do Dacar não tenho nada. As coisas estão todas em suspenso...", lamenta.
A falta de patrocinadores acabou por condicionar, também, o seu projecto para a edição deste ano. "Não consegui tudo o que queria, nem deu para me concentrar apenas na corrida", admitiu a O JOGO pouco antes da partida para a Argentina. E esta é uma situação que o "limita bastante". "É muito difícil gerir a minha carreira", confessa, ao mesmo tempo que considera "estranha" toda esta situação, sobretudo "pelas verbas envolvidas, que não são exorbitantes, são normais para o retorno que garantem". Por isso, admite que este ano "faltou verba para estar mais descansado" e "um contrato a dois ou três anos para ficar tranquilo".
O seu orçamento para esta prova supera os 250 mil euros, bastante aquém do que gastam alguns dos seus adversários, mas, pelo menos, já deu para uma evolução. Hélder Rodrigues conseguiu contratar uma pessoa que o ajuda na logística e que se junta aos dois mecânicos, e arranjar uma autocaravana que o vai acompanhar ao longo da prova. Mesmo assim, mais uma pessoa, para além de significar mais apoio, significa também, mais dinheiro para inscrições. "É uma vergonha", sustenta. Isto porque tem de pagar 9500 euros de inscrição por cada ajudante que o acompanhar (dois mecânicos e um assistente), mais 20 mil euros por si e pela moto (o piloto custa 13 mil e a moto sete mil), a que se somam mais três mil euros pela autocaravana. "E se tivesse um camião de assistência, seriam mais 9500 euros para o condutor", frisa o "Estrelinha". Mas esse é mesmo um dos principais apoios que tem da Yamaha, que providencia a sua assistência com um camião da Yamaha France. "Tem sido um apoio importante para mim, mas não tenho tido tempo para dar mais visibilidade aos patrocinadores, pois tenho de treinar e de preparar tudo", lamenta.
Em contrapartida, ganhar uma prova destas "é quase uma ajuda de custo". O primeiro classificado ganha 25 mil euros, mas o terceiro, por exemplo, classificação conseguida por Hélder Rodrigues na última edição, "não dá para pagar, sequer, a inscrição". "Isso nem é um prémio, é uma ajuda de custo", ironiza.
No entanto, apesar de ter perdido dois patrocinadores importantes este ano, Hélder Rodrigues recusa a ideia de "ter de fazer um bom resultado para ter contrato". "Já fiz o que tinha a fazer, têm de acreditar em mim e tenho de fazer o meu trabalho."
Velhos conhecidos
Na América do Sul, Hélder Rodrigues não vai apenas reencontrar o local onde sofreu um violento acidente no Por Las Pampas Rally de 2007. Vai reencontrar adversários de outros campeonatos. Depois de anulado o Dacar de 2008, o "Estrelinha" defrontou e bateu Marc Coma e Cyril Despres em Portugal, nas Dacar Series, tal como Rúben Faria. Agora, para além de enfrentar os dois chefes-de-fila da KTM, vai bater-se contra Joan Pedrero, por exemplo, que em 2006 foi o seu principal adversário no Nacional de Enduro que, na altura, significou a sétima coroa para o piloto de Sintra. Pedrero é agora o mochileiro de Marc Coma. Já Rúben Faria, que disputou inúmeras provas de enduro com Hélder Rodrigues, é o mochileiro de Despres. Mas outro dos candidatos aos lugares cimeiros, pelo menos a uma posição entre os dez melhores, é Felipe Zanol. O brasileiro também já passou por Portugal, onde venceu dois campeonatos de enduro, tendo representado a CRN, equipa campeã nacional, no Mundial de enduro. Mas foi em Portugal que Zanol ganhou estatuto e enfrentou Hélder Rodrigues nos trilhos do enduro onde se forjou o terceiro classificado da última edição da prova.
Para além da concorrência, o piloto português da Yamaha terá de enfrentar as armadilhas do terreno. Mas está descansado. "Serão as habituais. É preciso ir concentrado, porque numa corrida destas tudo pode acontecer", frisa.
Hélder Fernando Simões Cerqueira Rodrigues
Conhecido por Hélder Rodrigues
Idade32
MotoYamaha WR 450F
Número3
Números
36 pneus
36 bib mousses
12 rodas
3 motores
28 pares de pastilhas de travão
3 correntes
12 cremalheiras
5 pinhões
3 pistões
1 autocaravana
2 capacetes
10 equipamentos
euro 25 000
O prémio para o vencedor do Dacar. Mas só 20 mil euros custa a inscrição do piloto e da moto, fora os mecânicos.