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Por paradoxo, na FPF o problema não é dinheiro, pelo menos enquanto o tribunal não der ordens ao Gil Vicente e a Carlos Queiroz para o levarem da tesouraria. Fernando Gomes sabe que encontrará os cofres cheios e bem geridos, mas admite suspeitar de problemas de atendimento e - o mais importante - constata o fracasso na formação e desenvolvimento desportivo.
Disse a um jornal que, na área financeira da FPF, há muita competência. E nas outras?
Sobre a área das finanças, basta ver a estabilidade financeira da FPF. Foi bem gerida, financeiramente fortalecida, independentemente de algumas questões litigiosas que possam ter efeito sobre esta estabilidade e que ainda não podemos avaliar por não termos dados objectivos. Quanto à vocação fundamental, a formação e o desenvolvimento desportivo, efectivamente a Federação não desenvolveu adequadamente todo o potencial para não termos problemas, daqui a alguns anos, com a escassez de jovens valores. Nessa área, não se pode dizer que foi positiva. Um inquérito de O JOGO concluiu que os utentes não estão satisfeitos com os serviços administrativos...
Não falei dos serviços, porque não tenho um conhecimento directo. A minha função, como vice-presidente, é a participação nas reuniões de Direcção. Aquilo que sentimos, um pouco evidenciado pelo estudo que O JOGO fez, é que há um descontentamento grande, quer dos clubes quer das associações, relativamente à resposta e à qualidade dos serviços prestados. Quando for presidente da Federação, não deixarei de os avaliar, com a minha equipa, e de eventualmente os corrigir. Construiu a sua lista com nomes conhecidos, em vez de propor profissionais de áreas mais específicas, da gestão e do marketing, como se esperaria do seu perfil. Fê-lo por convicção ou por uma questão eleitoral?
Por convicção. Convidei as pessoas em função do projecto que desenvolvi entre 20 de Setembro e 2 de Outubro para iniciar a visita às associações distritais e apresentar o projecto a 3 de Outubro. Desde a primeira hora definimos a matriz estrutural da FPF; definimos as áreas para mudar o paradigma da própria FPF. Foi nessa perspectiva que convidámos Humberto Coelho, João Pinto, Pedro Pauleta, Mónica Jorge e Pedro Dias; foi nessa perspectiva que convidámos três presidentes de associações que deram garantias relativamente aos nossos objectivos. Fi-lo de forma consciente, livre e independente, sem nenhum condicionamento, sem nenhuma circunstância em que me empurraram para convidar A, B ou C. Fiz a minha escolha dentro da minha análise. Noutros países, mais bem-sucedidos, a profissionalização é muito mais profunda. Não é aplicável esse modelo?
Identificámos uma entidade que tem um orçamento de quase 40 milhões de euros e não pode compaginar uma gestão profissional com uma gestão amadora. O nosso modelo aponta para um modelo de Comissão Executiva que, de forma profissional, gira a FPF. Até que ponto, olhando para o passado de outras eleições federativas, teve de chegar a compromisso com as associações distritais, por exemplo?
Não há compromissos. Desde a primeira hora identificámos que queríamos ter uma representatividade global. Claramente, as associações têm de ter um papel importante. Repito, escolhemos a nossa equipa de uma forma perfeitamente livre e independente relativamente àquilo que eram os nossos objectivos para o desenvolvimento do futebol na FPF, acautelando a relação entre a FPF e as associações. Criaremos, designadamente, um gabinete, que vai ser liderado pelo presidente da AF Santarém, Rui Manhoso, para articular uma política de grande descentralização. O nosso compromisso é com o futebol nas suas vertentes fundamentais, em termos de desenvolvimento e sustentabilidade dos clubes de II e III Divisões, das associações menos protegidas - Bragança, Évora, Guarda, Portalegre, Algarve e as ilhas - e que não tiveram privilégios relativamente ao que foi a gestão da FPF, porque estão no Interior, com recursos limitados. Por isso decidimos, por exemplo, que as verbas dos jogos da Selecção passarão a ser distribuídas por todas as associações em vez de entregues apenas à que os organiza.
