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Suplente de Helton no campeonato e na Liga Europa, o guarda-redes do FC Porto tornou-se herói na Taça de Portugal ao defender uma grande penalidade e outros remates com selo de golo. Revelou ter voz e peso no balneário, mas não aguentou a emoção na palestra antes da final de Dublin com um discurso arrebatador de André Villas-Boas. Não quis revelar o teor, embora lhe tenha atribuído o sucesso da conquista da Liga Europa.
Dos quatro troféus conquistados foi a Taça de Portugal que lhe deu mais gozo?
Se pensar apenas a nível pessoal, é óbvio que sim. Porque participei directamente mais vezes na conquista do troféu. Não vou dizer que não participei nas outras provas, porque joguei em todas, desde o campeonato à Liga Europa e à Taça de Portugal. Só não joguei na Supertaça, porque foi apenas um jogo. Sinto-me campeão em todas as provas. Quanto à Taça de Portugal, como joguei mais vezes teve um sabor especial para mim.
No início da época ganhar quatro troféus não passava de um sonho...
Era um sonho, mas também uma ambição, uma vontade colectiva do grupo. A Supertaça com o Benfica funcionou como uma rampa de lançamento para uma época histórica. Foi uma vitória fundamental. A partir desse momento os níveis de confiança foram potenciados, sem dúvida nenhuma.
Como passou para a realidade? Quando é que começaram a acreditar na sucessão de troféus?
A partir do momento em que nos reunimos com o mister André, e toda a estrutura que o envolve, sentimos que este ano seria de sucesso e de vitórias. Com o trabalho que fomos desenvolvendo e com a assimilação da mensagem do treinador, recebida de forma plena e captada a cem por cento, todas as forças se uniram. E quando isso acontece o resultado só pode ser este.
Qual foi o momento que mais o marcou?
Houve vários momentos que me marcaram. A segunda mão da meia-final da Taça de Portugal, com o Benfica, foi um momento fantástico. Festejar o título na Luz foi lindo, mas a reviravolta na Taça, com toda aquela força e potencialidade que demonstrámos, foi um momento de sonho. E depois houve a palestra antes da final da Liga Europa. Também esse foi um momento especialmente marcante. Chorei. Foi algo lindo.
O que se passou?
Não sei se posso contar. É melhor não. Posso dizer apenas que foram palavras bonitas. Foi a conjugação de sentimentos que se envolveram dentro daquela sala de reuniões. Foi bonito e comovente. A palestra durou 30 minutos, não mais, mas chegou para os jogadores sentirem que era possível vencer e que estávamos à beira de algo histórico. Saímos daquela sala convencidos que íamos ganhar a Liga Europa.
Como é que os jogadores foram encarando a invencibilidade que durou até ao final do campeonato? Falavam na possibilidade de perder um dia?
Nunca se falou em perder naquele balneário durante a época inteira. Intimamente, cada jogador poderia pensar que um dia a derrota acabaria por acontecer, porque não existem equipas imbatíveis. Simplesmente não existem. A nível de discursos e de balneário nunca se pronunciou essa palavra.
O que é que os adversários vos diziam no final dos jogos?
Que somos realmente muito fortes. No final da Taça de Portugal fui ao controlo antidoping e o jogador do Guimarães que lá estava disse-me que fomos muitos fortes. Disse-me que mesmo depois da Liga Europa, com dois dias de descanso, viagem para Lisboa e estágio, jogámos e ganhámos porque fomos realmente fortes.
Estava à espera de um rendimento defensivo tão bom depois da saída de Bruno Alves?
Sem dúvida. Saiu o Bruno, que era fundamental, mas ficou o Rolando e o Maicon, dois jogadores de enorme qualidade. Depois houve um acréscimo de qualidade com o Sereno e o Otamendi. São quatro centrais de muita qualidade e, para mim, que jogo atrás deles, actuar com qualquer dupla é igual.
O que é que o FC Porto pode fazer na Champions?
É um sonho. Partilhamos todos desse sonho, que é chegar o mais longe possível. É uma competição de topo europeu e queremos chegar o mais longe possível.
E para esse sucesso será essencial manter esta estrutura de jogadores?
Obviamente, com o conhecimento entre os jogadores e mais tempo juntos há um entrosamento maior da equipa. Mas mesmo com a chegada de dois, três, quatro ou cinco elementos, não sei o que vai acontecer, todos virão para dar mais qualidade ao grupo, ajudando-nos a alcançar mais títulos.
Depois desta época, a fasquia não está demasiado alta e não há o perigo de a decepção ser maior em caso de insucesso?
Há um trabalho do treinador e dos dirigentes, sempre presentes com a equipa, que nos dizem que as fasquias funcionam como motivação e alavanca.