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Ao contrário da matemática, o futebol não é uma ciência exacta, mas estas duas áreas dão as mãos em muitos aspectos. Domingos Paciência não tem dúvidas sobre isso e o conceito de infinito é exemplificativo, pois há jogos que parecem nunca mais acabar. "Quando o árbitro levanta a placa com um tempo de compensação de três ou quatro minutos, se estivermos a ganhar por 1-0, esse tempo não passa nunca. Se estivermos a perder, passa num abrir e fechar de olhos. Esses minutos, consoante o resultado, não são iguais" - esta foi das inúmeras respostas do treinador do Braga na entrevista peculiar que concedeu ao Clube de Matemática.
Apesar de sempre ter torcido o nariz à disciplina - "Para ser honesto, contas comigo era mais complicado" -, Domingos aceita analogias, porque a matemática e o futebol necessitam de esforço e trabalho diário, além de que a estatística é uma ferramenta de que não prescinde. "Quanto mais treinarmos, mais preparados estamos. Na matemática, penso que também é assim: se deixarmos de pôr a cabeça a pensar e a trabalhar, daqui a uns tempos vamos ter dificuldade em resolver situações", opinou o técnico, que não encara o erro com naturalidade. "Se trabalhamos para que o erro não aconteça e ele acontece, alguém falhou. E a minha primeira reacção, enquanto treinador, é saber se fui eu que falhei. Se vir que não fui eu, vamos assumir o erro com quem o cometeu", revelou o treinador.
Domingos, no entanto, relativiza determinadas falhas, como, por exemplo, um jogador falhar com uma baliza de 7,32 metros por 2,44 numa área de 17,86 metros quadrados. "A bola torna-se mais rápida ou mais lenta consoante o passe, a decisão e o enquadramento. Colocando estes três aspectos em harmonia, a finalização pode ser perfeita, senão é porque algo falhou ou houve mérito da defesa. Numa situação de penálti, por exemplo, a força mental do jogador tem muito mais influência do que a sua qualidade", explicou, mostrando-se também compreensivo em relação a situações originadas pela lei do fora-de-jogo. "Para o fiscal de linha conseguir manter o olhar na bola, no momento em que ela sai e, ao mesmo tempo, ver a opção do último defesa é necessária uma sincronização tão rápida que, por vezes, a decisão não é a melhor", disse.
A finalizar, Domingos deixou um conselho matemático para os mais pequenos: "Estejam atentos ao presente, que no futuro vão ter que fazer muitas contas".
