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A FIGURA DO FC PORTO: Falcao
Goleador felino de rapina
Há nomes que dizem quase tudo sobre quem os usa. Falcao dizia muito sobre Radamel. Falava do seu domínio incontestado dos céus, apesar da estatura modesta; da sua velocidade no momento de atacar a presa e também da sua visão do jogo, aquela que lhe permite adivinhar as trajectórias e antecipar o ponto certo para interceptá-las. Falcao dizia muito sobre Radamel, mas faltava qualquer coisa até El Tigre dizer o resto e falar da força que lhe sustenta os duelos com os centrais, da natureza furtiva que lhe permite passar despercebido até ser demasiado tarde e do poder devastador das suas garras, capazes de desfazer qualquer adversário em pedaços. El Tigre Falcao podia ser o nome de um predador temível, confortavelmente instalado no topo da cadeia alimentar. E de certa forma é. É o nome que diz tudo sobre Radamel, melhor marcador da Liga Europa, detentor do recorde de golos na competição, autor de dois hat tricks e de um póquer que hão-de fazer o Rapid de Viena, o Spartak de Moscovo e o Villarreal suar frio sempre que o ouvirem. Há alguns dias, o avançado do FC Porto disse numa entrevista que guardou o melhor de si para a Liga Europa. Pois bem, hoje é dia de gastar tudo e agarrar o seu lugar na história. Jurgen quem?... Falcao
Quatro golos e uma bola para a secção das recordações resumem em poucas palavras o KO com que Falcao arrumou o Villarreal, no Dragão, na primeira mão das meias-finais da Liga Europa. Prémio de consolação: nesse encontro, o colombiano igualou o recorde de golos (15) marcados por Jurgen Klinsmann, senhor da área, que nos seus tempos de "barão" da artilharia alemã destroçou inúmeras defesas por essa Europa fora. Só que, como alguém disse, os recordes são estabelecidos para serem batidos. Ora, este FC Porto não se tem cansado de fazer isso mesmo esta época, o que, inevitavelmente, acaba por ter origem na produtividade individual. Falcao deixou o seu nome gravado a letras de fogo no porão do Submarino Amarelo, que ficou sem condições para navegar até à final de Dublin, e redigiu o seu cartão-de-visita que começa logo pela letra "g", de goleador, qualidade apreciada por muitos emblemas que o trazem referenciado.A.M.S.
A FIGURA DO BRAGA: Alan
O protagonista improvável
Alan contraria todas as probabilidades. De certa forma, o extremo é a personificação do próprio Braga, vestindo a pele de protagonista improvável numa espécie de "thriller" pleno de suspense, cheio de reviravoltas tortuosas no argumento, mas com uma propensão inevitável para os finais felizes. Se o Braga é visto como um clube médio com uma grande equipa, Alan foi muitas vezes visto como um extremo mediano com um grande futuro. Demasiadas vezes adiado. Passou de raspão pelo FC Porto e completamente ao lado dos outros grandes, mas encontrou o seu espaço em Braga e passou a encontrá-lo, inventá-lo e explorá-lo também nas defesas adversárias. Tal como o Braga, Alan não é exuberante e, tal como a equipa, não precisa de marcar muitos golos para marcar golos decisivos. Não foi dele o que trouxe o Braga até Dublin, mas é ele o melhor marcador da equipa na prova e foi muitas vezes às suas costas que a equipa fez o percurso até à final. Com uma capacidade de trabalho inesgotável, Alan não é menos perigoso, nem menos eficaz, nem menos extremo do que nenhum dos extremos do FC Porto e ainda consegue ser mais diligente que a maior parte deles, quando o jogo exige contenção. Há-de ser uma das maiores preocupações de André Villas-Boas, e a decisão do jogo pode muito bem sair dos seus pés. Seria caso para falar em final feliz. Classe, alma e frieza
Alan é um dos jogadores do Braga com maior experiência a nível internacional. A classe de um jogador define-se pelo talento, pela alma e pela magia que exibe e também, em determinados momentos, pela frieza e serenidade.
A 10 de Março, no Estádio AXA, na primeira mão dos oitavos-de-final da Liga Europa, Alan revelou todos os condimentos de um jogador de eleição. Escolhido por Domingos Paciência para tentar, aos 18', converter uma grande penalidade, o fantasista brasileiro não se intimidou perante um momento sempre angustiante e, com toda a calma do mundo, enganou Reina fazendo o golo que haveria de ser o único daquela noite de sonho.
