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No próximo jantar da família Forlán, Juan Carlos e Pablo vão ter de falar de igual para igual com Diego, o mais jovem futebolista do clã. Até aqui, os dois mais velhos dirigiam-se a ele com um certo ar de superioridade ao recordarem a Copa América que ganharam em conjunto, em 1967. Agora foi a vez de o benjamim da família erguer para os céus o mais importante troféu de selecções da América do Sul, igualando os feitos do pai e do avô.
Saiu um peso de cima dos ombros do avançado do Atlético de Madrid, que antes da final sentiu por momentos um calafrio ao pensar que poderia não conseguir ser tão bem-sucedido como os seus antecessores. Chegar ao jogo final integrado na selecção favorita - poucos acreditavam que o Paraguai pudesse ganhar - e... perdê-la seria uma humilhação difícil de superar nos encontros familiares. Uma festinha paternalista nos caracóis loiros de Forlán seria a provável reacção de Juan Carlos e de Pablo, uma forma de minimizar a decepção. Assim, todos ficaram ao mesmo nível. Diego fez-se finalmente um homem. "Tinha toda a pressão familiar em cima de mim", confessou o ponta-de-lança logo após a final de domingo, aliviado por ter honrado os pergaminhos da família.
O avô materno, Juan Carlos Corazo, foi o primeiro a festejar. Antigo médio-centro do Independiente, venceu a Copa América já como seleccionador do Uruguai, em 1959. Foi a "Décima" da Celeste, quatro anos depois de a Argentina ter somado também dez troféus na prova. Oito anos depois, com o genro Pablo Forlán (pai de Diego) a jogar na direita da defesa, Juan Carlos levou os uruguaios novamente à vitória. Um feito, aliás, quase único na competição: só Alfio Basile conseguiu ganhar duas vezes o torneio, no caso ao serviço da Argentina, em 1991 e em 1993. "Esta Copa América significa muito para mim, porque o meu avô a ganhou, o meu pai também a ganhou, e agora ganhei-a eu. Três gerações venceram este troféu. O apelido Forlán vai ficar na história do futebol", comentou um ponta-de-lança que, no berço, em vez de um ursinho de estimação ou outro qualquer peluche, foi desde logo familizarizado com uma bola de futebol.
Com um pai e um avô assim, como poderia Diego não vir a ser futebolista? Mas a verdade é que o foi apenas por acaso. O mais novo dos Forláns estava fadado para ser tenista e, à entrada da segunda década de vida, era considerado um dos mais promissores talentos da raquete no Uruguai. Até que, quando tinha 12 anos, um acontecimento trágico lhe marcou a vida: um acidente de carro deixou a sua irmã (mais velha cinco anos) numa cadeira de rodas para o resto da vida. Diego nunca o confirmou, mas diz-se que decidiu ser futebolista profissional por causa disso: nos relvados, poderia ganhar mais dinheiro do que nos courts de ténis, ajudando assim a pagar os tratamentos da irmã...