Corpo do artigo
Quando já poucos acreditavam, saiu do pé de Milton um motivo de alegria de tal ordem que a Covilhã não mais esquecerá o dia 29 de Maio. É certo que o golo valeu a permanência ao clube, mas a euforia que se instalou no estádio não encontra aí a única razão.
Para o Covilhã, as contas eram simples: ganhava e não se falava mais nisso. Arrumavam-se os rádios, as informações vindas de Oliveira de Azeméis e festejava-se a permanência na Liga Orangina. A história podia ter sido assim, mas não foi. E não foi, antes de mais, porque o Aves não estava para alinhar nas celebrações de mais ninguém, depois de ver o Feirense comemorar a subida no seu próprio estádio.
Três milhares encheram-se de fé e foram empurrar a equipa. O tempo foi passando e o Covilhã não chegava ao golo. Vá lá que do outro lado não havia sinais do Varzim, coisa ainda assim insuficiente para aliviar a ansiedade. Chegou, depois, a desilusão: Gonçalo Graça marcava à Oliveirense e o Covilhã passava a estar na II Divisão. A segunda parte já ia longa e a equipa ressentiu-se do golpe, daqueles bem duros. Teve, todavia, o mérito de se recompor para o assalto aos derradeiros minutos. Era o tudo ou nada; uma época inteira jogada no tempo de compensação. Todo um campeonato que, de repente, ficou preso ao pé de Severino, a postos para executar um livre que, no fundo, era muito mais do que isso. O extremo partiu, executou como se pedia mas não foi suficiente para bater Rui Faria, que tramava o Covilhã com uma soberba defesa. Não era o fim porque havia tempo para a marcação do canto que nasceu do lance. Serginho sai da baliza rumo à área contrária, personificando na perfeição o desespero que já ninguém disfarçava. E é para ele que se dirige a bola, para a mais improvável das cabeças que por ali lutavam. O guardião não vacila, toca-lhe na direcção de Milton que atira sem piedade. Assim, em cima do apito final, dando contornos de épico ao sucedido. Uma loucura! Duvida? "Festejei como se tivesse ganho a Liga dos Campeões", diz Serginho.
Estava escrita a história de uma permanência conquistada no último lance do campeonato, à custa de um jogador nascido e criado na terra. Enquanto se chorava em Oliveira de Azeméis, na Covilhã festejava-se um momento único. Claro que o sofrimento podia ter sido menor, mas se calhar nem era a mesma coisa.
Milton | Fez história e só queria correr
Explicar um momento de alegria imensa é coisa que Milton tem dificuldades em fazer. Ele chutou com a direcção e força certas e quando viu a bola dentro da baliza só queria uma coisa: "correr para algum lado". "Mas fui de imediato abraçado pelos colegas", acrescenta. Não admira. Foi um momento que "marca a carreira" do médio e "é histórico para o clube". Milton tem uma certeza: não voltará a esquecer o dia 29 de Maio de 2011. E quando o relembrarem irá repetir: "Não tenho palavras".
Serginho | Da tristeza no banco à glória na área
O melhor que se podia esperar de Serginho quando chegou na reabertura do mercado é que fizesse a diferença com defesas. Afinal, juntou isso com uma assistência de cabeça para o golo do ano. Nunca tal coisa tinha acontecido ao guardião cedido pelo Guimarães e nem o próprio sonharia com isso. Um prémio para quem passou muito tempo... sentado. "Foi meio ano fantástico. Voltei a sorrir e a sentir-me útil, depois de momentos de tristeza no banco" do Guimarães, desabafa.