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Guimarães-FC Porto
1 Desgaste e desconcentrações contra muita ingenuidade
A Taça de Portugal é, de facto, uma prova diferente - não só bonita e alegre como incerta durante o seu percurso, relativamente aos resultados. Ontem vivemos momentos de grande emoção, em especial numa primeira parte louca, com muitos golos, que deram uma beleza ímpar a esta competição. Depois das conquistas do campeonato e da Liga Europa e dos festejos que se seguiram, o FC Porto chegou a este jogo com algum desgaste físico e sem encarar a Taça como uma prioridade, mais como um bónus. Daí ter entrado em campo decidido a resolver as coisas cedo, embora tivesse encontrado maiores dificuldades do que esperava, pois o Guimarães obrigou os seus jogadores a correrem mais do que desejariam. O desgaste físico contribuiu para que o FC Porto passasse por períodos em que faltou a concentração - e não só nas bolas paradas. O número de oportunidades criadas pelo Guimarães, sobretudo pelo lado direito do seu ataque, demonstrou fragilidades defensivas dos portistas, mas estas foram compensadas pela dinâmica ofensiva. Do lado vimaranense, tenho de destacar a falta de organização. Mesmo nos seus melhores momentos no jogo, foi uma equipa muito desorganizada defensivamente, com os sectores muito afastados. A isso junta-se muita ingenuidade: o golo de Hulk de canto directo não lembra a ninguém! Percebo que haja guarda-redes que não coloquem defesas ao segundo poste, mas no primeiro não...
2 James Rodríguez possui o atrevimento dos grandes
A primeira vantagem do FC Porto foi alcançada muito cedo, logo aos três minutos, fruto de uma atitude muito positiva, da forte personalidade e confiança desta equipa, e por intermédio de um jogador que está a tornar-se um caso sério no futebol: James Rodríguez! Foi ele o homem do jogo, dono de um talento extraordinário e apenas com 19 anos. Tem uma qualidade técnica acima da média, tendo demonstrado também frieza e uma forte pesonalidade. Tem um bom drible, é rápido e ainda aparece muito bem na área a finalizar. É um miúdo muito atrevido, coisa de grandes jogadores - a irreverência que têm faz com que não temam nenhum adversário. O FC Porto tem em James Rodríguez mais uma pérola. E se é certo que tem muito valor, também é verdade que beneficia de estar numa equipa muito moralizada e forte, o que permite uma integração mais fácil do que se esta não estivesse a ganhar. Esta conjugação de factores permite o crescimento dos miúdos talentosos. Foi assim que apareceram Ronaldo, Quaresma e Hugo Viana, por exemplo.
3 Edgar falhou penálti e FC Porto matou o jogo
Depois de ter marcado cedo e mandado no jogo durante o período inicial, o FC Porto viu o Guimarães despertar aos 14 minutos, quando Edgar desviou um cruzamento de Alex. O autogolo de Álvaro Pereira, que fez o empate a um, deu início à loucura que foi a primeira parte, passando o encontro a ser de parada e resposta. O Guimarães não teve, porém, tempo para festejar, já que Varela marcou logo a seguir. Com o 2-2, o Vitória equilibrou o jogo e este tornou-se diferente, não só na sua espectacularidade como na incerteza no resultado. O FC Porto respondeu sempre bem aos golos sofridos e esteve sempre em vantagem, obrigando o Guimarães a correr atrás do prejuízo. O 3-2 e o 4-2 mantiveram o jogo em aberto, pois dava a sensação de que a qualquer momento a diferença podia ser reduzida. Chegou então o momento do jogo: o penálti falhado por Edgar, seguido do 5-2 para os portistas, que matou a partida. De um possível 4-3, o Guimarães viu-se a perder 5-2 e desmoralizou. Sublinho a importância de Beto na fase decisiva do encontro, pois não só defendeu mais um penálti como teve ainda de fazer muitas saídas, nas quais conseguiu corrigir as falhas da sua defesa.
4 Elogio a Villas-Boas
André Villas-Boas é indiscutivelmente uma das figuras desta época - basta olhar às conquistas da equipa. Não foi apenas a qualidade dos jogadores que esteve em campo. Soube gerir o plantel e recuperou jogadores como Belluschi e Guarín, que passaram a ser de grande relevo neste FC Porto. Conseguiu incutir na equipa um espírito que lhe permitiu ultrapassar os momentos mais complicados, como por exemplo dar a volta às meias-finais da Taça na Luz ou aguentar a fase mais perigosa do Benfica no campeonato, não obstante a vantagem confortável. Só o facto de ter terminado o campeonato sem derrotas já diz muito.