Nasceu Patrícia Santos há 23 anos, mas os amigos em Castelo Branco conhecem-na como Ticha. No resto do país também vai sendo já reconhecida depois de ser campeã mundial júnior de Powerlifting, chegando a levantar 190 quilos para trazer o título para casa.
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Olá, Patrícia. Ou Ticha?
O Ticha vem de Patrícia, desde pequena que me conhecem assim. O Bredas é uma alcunha de família que já vem dos tempos do meu avô.
Há quanto tempo levanta peso?
Comecei a treinar em 2012, depois de ver um campeonato de culturismo. Queria competir e no ano seguinte entrei na primeira prova em biquíni.
Como se passa de provas em biquíni para levantar 190 quilos?
À medida que ia treinando a parte de culturismo ia ganhando gosto e punha cada vez mais peso nos exercícios. Mas faltava-me massa muscular. O meu preparador mandou-me então ganhar peso, comer mais. Ganhei peso, mas também ganhei força, treinava cada vez melhor. Percebemos que eu teria mais potencial num desporto de força. Em 2015, no Porto, fui campeã nacional de Powerlifting.
"Comecei em provas de culturismo, em biquíni. Mas depois fui ganhando força"
E depois apontou ao Mundial...
Na verdade, só em setembro soube que ia ao Mundial nos Estados Unidos, que foi em novembro. Não estava a contar ir, mas alguns amigos angariaram fundos, a Câmara de Idanha-a-Nova também ajudou e consegui ir. O meu treino específico foi feito muito em cima da prova.
E já ia com esperança de bons resultados?
Sim. Sabia os recordes do mundo e até já tinha batido um cá em Portugal, mas não foi homologado. Estava bem preparada, mas não queria ir muito confiante. Podia haver surpresas ou correr mal. Nunca pensei que fosse tão bom.
E afinal foi campeã e bateu recordes do mundo...
Sim, fui campeã mundial júnior de Powerlifting, Peso-Morto e Supino da minha categoria, de 60 a 67 quilos. Ganhei tudo o que havia para ganhar. E bati o recorde mundial de Peso-Morto, com 190 quilos, e Agachamento, com 165 quilos.
Depois de ter chegado como uma desconhecida...
Apanhei todos de surpresa. Não tinha historial na competição. E tenho só 1,49m de altura, ninguém estava à espera que levantasse tanto peso. Ficaram impressionadas logo após a primeira prova. Estava mesmo muito bem. Fazia diretos no Facebook com as minhas prestações e recebia apoio diretamente de Portugal. Nesse dia achava que podia levantar tudo, só queria meter mais peso na barra. Não sei de onde vinha a minha força.
Mas ser baixa pode ser uma vantagem...
Pois é. Tenho de levantar o peso menos tempo que uma atleta de 1,80m.
Olhando para trás, ainda se lembra dos primeiros pesos que levantava?
Lembro-me de, nos primeiros tempos, ficar contente por levantar 60 quilos. Agora nem no aquecimento. Começo logo à volta dos 100 quilos.
Sempre fez desporto?
Sempre. Fui campeã distrital de corta-mato e, até há dois anos era federada em futebol de 11. Jogava no campeonato nacional pelo Beira Baixa. Era extrema-esquerdo.
Já levantava peso enquanto jogava?
Sim, mas depois tive de deixar de jogar. Chegava aos treinos com dores musculares e estava a ganhar peso. Era mais difícil correr. Em contrapartida chutava com mais força...
"No quartel pedem-me para carregar as caixas"
Os treinos de Ticha acontecem só ao final da tarde, depois de um dia de trabalho. Mas além de tudo o que faz, é ainda bombeira desde os 16 anos. E o aumento da força só veio ajudar às respetivas funções. "No dia-a-dia sempre é preciso carregar algo pesado, caixas por exemplo, pedem-me. Chamam a Ticha." Com título conquistado, espera agora conseguir apoios nunca antes reunidos para se dedicar mais à modalidade. O sonho era poder ser profissional e sair de Portugal não está fora de hipóteses. "Se para o conseguir passar por aí, não deixo de aproveitar essa oportunidade."