Esta pergunta parece absurda, mas no Brasil já há quem o faça. A aplicação Goleiro de Aluguel está a revolucionar o futebol amador em terras de Vera Cruz e já conta com 8500 inscritos, que fazem desta atividade um segundo emprego
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Com cada vez mais campos sintéticos, reunir um grupo de amigos para jogar um jogo de futebol é fácil e algo que se faz regularmente. O que se torna difícil é convencer alguém a ir para à baliza, porque, convenhamos, é neste tipo de convívios que temos oportunidade de ser Ronaldos ou Messis e marcar uma dezena de golos em poucas horas.
Várias são as formas utilizadas para deixar a nossa baliza inviolável. Os sacrificados para defender as redes são normalmente os mais gordos, mas, quando nem os mais rechonchudos aceitam este desafio, cabe às equipas procurar outra alternativa, como, por exemplo, mudar de guarda-redes a cada golo adversário.
Ciente dessa lacuna, foi lançada no Brasil uma plataforma que está a revolucionar o futebol amador. Trata-se do Goleiro de Aluguel (Aluga-se Guarda-redes, em português europeu), uma aplicação semelhante à Uber e ao Cabify que permite convocar alguém, numa determinada área geográfica, para ser guarda-redes num jogo entre amigos.
"Eu sempre fui guarda-redes desde criança e, recentemente, percebi essa necessidade. Em janeiro de 2015, criei uma página no Facebook com o nome Goleiro de Aluguel e recebi vários convites para participar em jogos de amigos. Aí, notei que havia potencial para lançar um negócio", explica Samuel Toaldo, o CEO da empresa.
Este informático brasileiro, de 33 anos, natural de Curitiba, juntou-se então a Eugen Braun, ele, tal como o sócio, também habituado a guardar as redes em partidas amadoras, e a aplicação foi lançada em agosto do ano passado. "Começou na minha cidade, depois se expandiu a todo o Brasil. Já temos mais de 8500 guarda-redes registados", realça.
Um segundo emprego
Qualquer um pode ser um Goleiro de Aluguel e o processo é simples. Basta aceder ao site http://goleirodealuguel.com.br/, fazer o download da aplicação para um dispositivo móvel e fazer o registo. "A partir do momento em que está registado, começa a receber solicitações para a região dele. Depois de fazer o primeiro jogo, é avaliado pela equipa que o contratou e recebe uma nota. Com base nisso, nós depois elaboramos um ranking e premiamos os quatro melhores guarda-redes de cada mês, com luvas e equipamentos", elucida Samuel Toaldo.
A contratação deste serviço não é, obviamente, gratuita. O grupo que contrata o guarda-redes paga cerca de 10 euros por hora, sendo que 60 por cento (seis euros) vai diretamente para o guardião contratado. "Temos pessoas que ganham em média 800 reais por mês (cerca 235 euros), o que no Brasil é um valor elevado. Muitas profissões não pagam tanto", revela o criador, satisfeito pelo impacto que este projeto está a ter na sociedade brasileira: "Recebem um rendimento extra que lhes permite pagar a faculdade, a prestação do carro e outras despesas. Há um caso de um rapaz que é motorista da Uber durante o dia e guarda-redes de aluguer à noite."
O Goleiro de Aluguel promete também ser uma rampa de lançamento de guarda-redes nas divisões inferiores do Brasil. Prova disso é que alguns dos inscritos no projeto já foram chamados para testes, inclusive o próprio criador. "No início, quando ainda tudo funcionava só no Facebook, houve uma equipa das divisões de acesso do estado de Santa Catarina que me convidou para fazer um teste. Acabei por não fazer, porque a proposta não era financeiramente interessante. Tinha uma empresa de informática e uma remuneração muito maior do que aquela que era oferecida. Também já tinha 30 anos e poucas ambições de ser profissional", justifica Samuel Toaldo.
Aplicação solidária
Além de proporcionar um rendimento mensal extra a algumas pessoas, os criadores do Goleiro de Aluguel também ajudam jovens necessitados a jogar futebol. No Mali, a empresa fundou uma escola de guarda-redes. "Todos os meses, pagamos as infraestruturas, é oferecido material e também alimentação. Temos mais de 50 alunos na escola e quem coordena, juntamente connosco, é o Vadjiguiba Diaby", conta Samuel Toaldo.
No Brasil, o projeto empenha-se em dar melhores condições a atletas com deficiência e é um dos patrocinadores da seleção de futsal feminina para surdos. "Agora em julho, elas vão disputar a surdo-olimpíadas na Turquia. Na nossa loja, nós temos camisolas à venda com a hashtag somos todos surdo-olímpicos e o dinheiro da venda é dada na totalidade para a comissão de atletas", sublinha, lembrando que, "quanto mais cresce a aplicação, mais pessoas são ajudadas".