Foi o primeiro português a ser aceite para a Mongol Derby, a maior corrida de cavalos do mundo. A prova é só em agosto de 2018, mas Manuel Espregueira Mendes, de 28 anos, já só pensa nas dificuldades que vai ter de superar para completar os 1000 quilómetros do percurso.
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Que prova é esta e porque é que é especial?
Está inscrita no Guinness como a maior corrida a cavalo no mundo. São 1000 quilómetros, na Mongólia, em que montamos cavalos específicos, semi-selvagens, montados apenas duas ou três vezes. De 40 em 40 quilómetros encontramos estações nas quais trocamos de cavalos e onde podemos pernoitar, se quisermos.
Disse que os cavalos eram específicos...
Sim. São sempre cavalos mongóis de uma raça local, pouco ou nada alterada em séculos. O cavalo lusitano, por exemplo, é uma raça muito evoluída, o resultado do cruzamento de cavalos grandes, fortes. Os da Mongólia são uma raça muito primordial.
Montar um cavalo novo a cada 40 quilómetros torna o desafio ainda maior.
Será uma dificuldade acrescida. Não vai ser o mesmo que montar um cavalo nosso ou já ensina. Estes cavalos são muito pequenos, com andamentos desconfortáveis. Há dificuldades de maneio, são cavalos que nos tentam atirar ao chão. Todos os anos há acidentes por causa disso.
Já montou algum cavalo deste género?
Acho que nenhum concorrente montou cavalos desses. A minha preparação passar por montar cavalos com pouco ensino que, por isso, são difíceis de manusear.
Como encontrou a Mongol Derby?
Foi por acaso. Estava a pesquisar na Internet e deparei-me com comentários de concorrentes de edições anteriores. Quantos mais lia mais certeza tinha que tinha tudo a ver comigo. A minha primeira preocupação foi perceber se não era um abuso para os cavalos. Percebi que a primeira regra, que mantém a prova, é o bem estar dos cavalos. A regra é sagrada. O cavalo está em primeiro lugar.
Está preparado para a dureza de 1000 quilómetros em cima de um cavalo?
Por mais que treine, nunca estarei preparado até passar por isso. Claro que vai ser muito difícil, se apanhar mau tempo será pior, muito desconfortável. Havendo condições para acabar ao relento, para fazer mais alguns quilómetros, é algo que farei. Sou competitivo e darei o meu melhor. Vai ser um desafio muito mental É a cabeça que vai levar-me até aos mil quilómetros.
Como está a preparar-se?
Para já estou a treinar a parte física, três horas por dia. E tenho montado todo o tipo de cavalos que encontro, graças à disponibilidade de muitas pessoas que me têm dado esse privilégio. Até agosto quero entrar em vários raids, que são corridas a cavalo de 40, 80 e 120 quilómetros.
O cansaço acumulado será a maior dificuldade?
Sem dúvida. E tenho de manter-me longes de acidentes. Se cair e partir um braço acabou tudo. Tenho de montar com calma, fazer tudo com cabeça. Sem ter penalizações por abuso do cavalo. Imagino que será uma prova muito monótona. Cavaleiros de edições anteriores relatam que falavam sozinhos. Há muita solidão da prova e isso pode ser agressivo. Mas gosto de estar sozinho. A solidão não me assusta. Ganho energias sozinho, gasto energias com pessoas.
Há quem abuse dos cavalos?
Tratar do cavalo é essencial. Se o cansaço do cavalo atingir um limite extremo posso até ser expulso. Se for preciso faço a o percurso a pé, com o cavalo ao lado. Não adianta sair logo a galope e cansá-lo nos primeiros quilómetros. É mais inteligente sair a trote, manter andamento mais baixo, mas constante. Se passar por um rio posso deixar o cavalo descansar e passar-lhe água em cima. Estou a aprender esses truques com pessoas com experiência dos raids, para gerir o cansaço do animal.
Uma vida em redor dos cavalos
Para ser aceite na Mongol Derby, Manuel Espregueira Mendes, cavaleiro amador teve de provar que tem experiência a lidar com hipismo. "Comecei a montar com nove anos, a fazer obstáculos. Tive privilégio de montar com Coronel Carlos campos, que foi atleta olímpico. Fiz dressage na Alemanha, enquanto fazia Erasmus, e agora vou ter a oportunidade de fazer esta prova. Os cavalos são uma grande paixão."