É pela simpatia que serena os ânimos, mas também faz cara feia quando é preciso. Costuma ser destacada para o Estádio do Restelo, onde presenciámos o que fez num jogo do Benfica
Corpo do artigo
É no relvado que Joana Flores costuma ser protagonista, mas fora dele desempenha funções de igual relevo, ao zelar pela segurança dos cidadãos. Bicampeã nacional pelo Futebol Benfica, a extremo-esquerda é agente da Polícia de Segurança Pública e aceitou ser acompanhada por O JOGO numa ação relacionada com o desporto-rei. Por trabalhar numa esquadra próxima de Belém e dado o gosto pelo futebol, Joana é habitualmente destacada para o policiamento dos jogos no Estádio do Restelo e foi durante o Real Sport Clube-Benfica, da Taça de Portugal, que estivemos com a atleta do popular Fofó. Cumprida uma reunião preparatória, Joana foi enviada para a porta destinada à entrada das claques e, duas horas antes do apito inicial, começou a sua missão. "Parece que estou destinada a ficar com as claques sempre que jogam os grandes no Restelo", confidencia-nos. Quando começam a chegar os primeiros adeptos encarnados, de forma solícita, Joana apresta-se a auxiliar um senhor que entra com canadianas. E entre o espanto de quem vê passar outro indivíduo em t-shirt face ao frio e chuva que se faziam sentir, solta um sorriso, uma das imagens de marca da jogadora de 27 anos. "Costumo resolver as situações críticas apelando ao bom senso, mas quando é preciso também faço cara feia. Nunca tive problemas por ser mulher e os homens também se retraem mais e não partem para a agressividade. Falo sempre em tom calminho e eles ainda ficam mais malucos. Por vezes, depois até me pedem desculpa e elogiam o nosso trabalho", conta.
Com o aproximar da hora do encontro, o volume de trabalho cresce e entre pedidos para que os adeptos rumem às bancadas, desimpedindo a zona de entradas, procede-se às revistas ao público e aos adereços, como tarjas e bandeiras trazidos por elementos da claque No Name Boys. "Normalmente vêm em cima da hora do jogo para que a revista seja efetuada à pressa. Como o jogo está a começar, já sabemos que haverá problemas se não facilitarmos a revista", explica. "Depois, há sempre pessoas que ficam incomodadas ao serem revistadas e dizem-nos que não são criminosos, mas lá percebem que é um procedimento necessário", acrescenta.
No Restelo, onde já tinha estado em policiamento durante o Portugal-Roménia, relativo à primeira mão do play-off de acesso ao Europeu feminino, Joana Flores revistou as mulheres e passou a pente fino tarjas e bandeiras das claques encarnadas
Ao lado de Joana, entrámos no estádio quase no final da primeira parte, pois a agente ficou a controlar as entradas de adeptos que chegaram já com o desafio em andamento. "Normalmente vamos trocando. Fico no exterior e depois rendo um colega no interior", aponta. Ainda não há golos e sem esconder a paixão pelo tricampeão nacional, a atacante do Fofó lá desabafa: "O Benfica nunca mais marca". Os tiros certeiros das águias aparecem na segunda parte, altura em que o entusiasmo das claques encarnadas aumenta. Ainda assim, não foi necessária nenhuma intervenção extraordinária, pois o comportamento nunca excedeu os limites. "Noutros jogos também nunca tive problemas. Não se passou diretamente comigo, até porque quem acompanha de perto as claques são os spotters, mas já houve detenções por terem tentado entrar com meio petardo. Um adepto também tentou invadir o campo, mas foi neutralizado", sublinha.
Com três quilos à cintura, arma, algemas e bastão, Joana já sprintou para apanhar fugitivos
Em dias de chuva, com a roupa molhada, o peso aumenta e só à cintura, Joana suporta três quilos com a pistola, algemas, bastão e gás pimenta se for necessário. "Felizmente", nunca teve de sacar a arma. "Desejo que isso nunca aconteça e só recorremos a isso numa situação-limite e bastante gravosa. Ainda para mais, só temos uma sessão de tiro por ano e é algo que devíamos fazer mais vezes para sabermos agir numa situação de stress em que é preciso raciocinar mais rápido e haver precisão. Imagine, por exemplo, com a respiração alterada e sob stress, se atiramos a uma perna, mas a trajetória é alterada para outra zona do corpo?", indaga Joana, que entrou na escola da PSP há seis anos. Ao longo do seu trajeto, a preparação física dada pelos treinos no Fofó já lhe foi útil na atividade profissional. "Já tive de correr uns bons metros dentro e fora de um hospital para apanhar indivíduos envolvidos em roubo. Com três quilos na cintura não foi fácil, mas conseguimos detê-los", frisa. Para trás, ficou também o trabalho na área de investigação. "Dava-me gozo ter apenas uma pista e através disso chegar aos suspeitos de crimes. A nossa equipa ajudou a desmantelar algumas redes de tráfico de droga. Interesso-me muito por essa área, mas infelizmente é um flagelo que não vai acabar", atira.
