W52-FC Porto tem a tradição de juntar ciclistas e staff da equipa na quinta do diretor desportivo, Nuno Ribeiro, e o vencedor da Volta é dos que nunca faltam. Rui Vinhas, refira-se, vai receber o Dragão de Ouro para atleta do ano, anunciou o FC Porto esta terça-feira.
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São duas tradições que nos últimos anos quase se misturam: a época de ciclismo encerra no festival de pista, em Tavira, para os que são da zona de Valongo somam-se as vindimas na quinta de Nuno Ribeiro. Foi ali, em Sobrado e durante três dias bafejados por um sol de verão, que parte dos ciclistas e do staff da W52-FC Porto trocaram as bicicletas pela tesoura de poda e momentos de boa disposição.
"Ainda não era profissional quando vim pela primeira vez. Tornou-se um ritual. O Nuno Ribeiro paga-nos em amizade"
"Há uns anos que isto se tornou uma tradição. Aproveitamos o convívio e fazemos o trabalho. Aqui existe espírito de equipa", diz Nuno Ribeiro, que em troca do trabalho oferece as refeições e, no final, "algumas garrafas de vinho". O diretor desportivo dos portistas é o primeiro a encarar as vinhas com sentimento. "Nasci aqui e sempre tive esta paixão. Arranjou-se o campo e isto é nosso. Sobrado tem bom vinho", explica, partilhando o gosto com ciclistas como Joaquim Silva, Daniel Freitas e, sobretudo, Rui Vinhas. O vencedor da Volta a Portugal é dos ajudantes mais antigos.
"Há uns sete ou oito anos que faço aqui as vindimas. Ainda não era profissional quando vim pela primeira vez. Sempre gostei da vida do campo; e isto tornou-se um ritual", diz Rui Vinhas, atarefado no tic-tic da poda, com Miguel, o irmão gémeo e mecânico dos portistas, por perto. Os corredores misturam-se com massagista, mecânicos e até o diretor da equipa, Maximino Pereira, transpira no meio das videiras. Rui Vinhas não sabe se teria optado pelo campo caso não fosse ciclista, mas aprecia o facto de a sua profissão "permitir conjugar este gosto, pois para mim a ligação à natureza sempre foi um prazer".
As vindimas, misturando familiares de Nuno Ribeiro e gente do ciclismo, terminam com a pisa das uvas, numa noite animada a que não falta a música. "É o verdadeiro momento de festa", diz o diretor desportivo. Rui Vinhas não perde pitada, embora tenha sido pai há semanas. "Desde a Volta tenho sido muito solicitado e é com agrado que respondo sempre que posso. É importante para o ciclismo e devo contribuir para a sua divulgação. Faço-o com gosto. Agora sinto-me realmente um vencedor da Volta, com muitos convites, outra responsabilidade. A minha mulher compreende e o meu filho irei compensá-lo mais tarde". Quanto ao trabalho de tesoura na mão, nunca pediu muito por ele: "O Nuno Ribeiro paga-nos em amizade e isso basta-me."
Piscina, musculação e BTT para época mais ambiciosa
"Vou lutar por mais vitórias. Se ganhei a corrida mais difícil, vou poder olhar as outras com maior segurança e motivação. Provou-se que um gregário pode lutar pelas grandes vitórias, por vezes a diferença está apenas no acreditar. Os gregários só pensam no seu trabalho e nunca tentam as vitórias. Por isso, defendo sempre que devem ser reconhecidos pelo que fazem", discursa Rui Vinhas, que ganhou outra desenvoltura com a vitória na Volta a Portugal. O corredor de Sobrado entrou de férias, mas não vai parar por completo, pois está mais ambicioso: "A 1 de novembro recomeço oficialmente a nova época, mas antes disso faço algum BTT com colegas. Depois, começa ginásio, piscina, bicicleta de estrada e de montanha, já em trabalho duro.".