Carolina Mendes: "Antes do Euro"2016, as mulheres eram mais famosas do que os homens na Islândia"
Tem 29 anos, é natural de Estremoz e foi a autora do primeiro golo português num Europeu de futebol feminino. Tem corrido a Europa a jogar futebol e acabou de deixar o Grindavik, na Islândia, onde foi a melhor marcadora, com direito a homenagem
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Como foi a experiência no futebol islandês?
Foi positiva. A equipa atingiu os objetivos, que passavam por assegurar a permanência, pois estava pela primeira vez na liga principal. É um campeonato exigente, talvez o mais exigente em que já joguei. A liga disputa-se em apenas cinco meses, com jogos de três em três dias. Agora terminei o contrato e tenho de encontrar novo clube. É impensável ficar sem jogar até maio.
Foi homenageada na hora da despedida.
Foi um jantar de gala, com a equipa masculina e a feminina. Recebi o prémio de melhor marcadora da equipa. Foi um gesto bonito. É sempre bom ser reconhecida.
Como era a vida na Islândia?
A vida é igual em todos os lados quando somos profissionais de futebol. Ginásio de manhã, treino à tarde, almoço, jantar e deitar cedo. As rotinas são mais ou menos as mesmas dos outros países. O país é que é bastante diferente. Tem uma beleza natural, a cultura dos islandeses surpreendeu-me, têm uma mentalidade muito aberta. A nível de igualdade de género, equiparam a mulher ao homem. Tínhamos as mesmas condições da equipa masculina. Jogávamos no mesmo estádio, treinávamos nos mesmos campos. Tudo igual.
Essa igualdade pode acontecer por cá, com o crescimento do futebol feminino?
Não creio que vá acontecer em Portugal, para já. A realidade é diferente. Estamos a dar os primeiros passos no futebol feminino. Só agora estamos a profissionalizar as jogadoras. Não será de um dia para o outro, mas as pessoas olham para o futebol feminino com outros olhos. Estamos no bom caminho.
Os adeptos islandeses têm mostrado grande paixão pelo futebol, com a seleção. É assim com os clubes?
A presença da Islândia no Euro"2016, pela primeira vez, teve um impacto muito grande no país. Até lá o futebol não era o desporto rei. A seleção não tinha história e o futebol não era muito seguido. Antes do Euro, a seleção feminina até era mais acompanhada pelas pessoas. As mulheres eram mais famosas do que os homens. Mas isso mudou com o Euro"2016. Na Islândia dão muita importância ao futebol feminino. As jogadoras estavam em todo o lado, em cartazes na rua.
Já jogou em seis campeonatos. Que diferenças aponta entre eles?
Saí de Portugal há alguns anos e o futebol tem agora um impacto diferente aqui, o que é fantástico. Em Espanha e Itália têm uma cultura muito parecida com a de Portugal, mas os campeonatos são mais fortes e mais competitivos. O futebol italiano é muito parecido com o dos homens, mais tático e físico. Na Rússia, a nível de condições, foi onde me senti mais profissional. A Suécia talvez seja o campeonato mais competitivo, com equipas muito fortes. Na Islândia destaca-se a exigência.
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Como sentiu ao ser autora do primeiro golo de Portugal num Europeu feminino?
Foi um momento de felicidade. Quando fazemos o golo não pensamos nisso, no que vem a seguir, que se fica na história. Quando a bola entra, só se pensa no golo e que estamos a ganhar. Foi nisso que pensei. Só mais tarde percebi o resto, a dimensão do feito de Portugal. Foi um espetáculo.
Além do futebol, a Carolina tem ainda um blogue de viagens. É uma paixão tão antiga quanto a do futebol?
O futebol é a minha primeira paixão. É tudo. As viagens foram um gosto que comecei a ter mais para a frente, talvez por influência do meu irmão, que viaja muito. Sempre que posso, viajo. Jogando fora, e em tantos países diferentes, para mim é extramotivador porque posso fazer as duas coisas. Jogo e viajo. É perfeito. É o culminar de duas paixões. O blogue "As Viagens da Carol" foi algo espontâneo. Comecei a escrever quando estava na Suécia e partilhava os textos com as minhas amigas. E havia pessoas a pedirem-me conselhos sobre viagens. E então decidi criar esse blogue também para mostrar locais a pessoas que gostem de viajar.
Agarrar o corpo depois do futebol
Jogadora profissional de futebol, Carolina Mendes tem em stand by um curso de Fisioterapia que pretende recuperar assim que pendurar as chuteiras. "Quando terminar o futebol, é a primeira coisa que vou fazer. Neste aspeto as realidades são diferentes. Nós mulheres, quando terminamos a carreira, temos de trabalhar. A Fisioterapia é ao que vou agarrar-me quando terminar a carreira. E depois ficar ligada ao desporto, se possível ao futebol."