FC Porto

O homem que interdita a Luz

Pedro Rocha/Global Imagens

Duas vitórias, um empate, duas vezes figura do jogo e uma nota nove: a vida do portista Casillas em casa do Benfica

Se há estádio em Portugal onde Casillas pode dizer que é feliz é no da Luz. Afinal, foi no recinto do Benfica que o guarda-redes do FC Porto realizou algumas das melhores exibições em solo português, todas elas fundamentais para que entre no clássico de domingo com um registo a roçar o impecável: duas vitórias e (apenas) um empate. Os mais supersticiosos dirão que o espanhol é uma espécie de amuleto dos dragões, que bem lhe podem agradecer o facto de terem saído do recinto encarnado bem vivos na luta pelo título, mas a verdade é que as escolhas para figura do encontro por parte de O JOGO não foram obra do acaso. A infografia e a análise individual que publicamos na ressaca dessas exibições, e que recuperámos nestas páginas, são bem cristalinas em relação à importância que tem tido frente a um adversário contra o qual também nunca perdeu (nem mesmo como visitado).

A deslocação ao estádio que lhe traz algumas das melhores recordações da carreira, até pelo facto de ter sido na Luz que conquistou a mais recente Liga dos Campeões da carreira (2013/14), surge na melhor fase de Casillas nesta temporada. Depois de um arranque bastante complicado, com golos sofridos em três dos quatro primeiros jogos de 2017/18 (a exceção foi com o Chaves), o espanhol de 37 anos tem conseguido fechar a porta aos adversários com maior frequência. Nos últimos cinco encontros, por exemplo, só foi buscar a bola ao fundo da baliza em um: frente ao Schalke 04. V. Setúbal, Tondela e Galatasaray bateram com estrondo na muralha espanhola, pelo que é na procura do 60.º jogo sem encaixar golos pelos dragões que se apresentará no recinto encarnado.

Apesar de lhe serem reconhecidas intervenções decisivas, como sucedeu no Bonfim, quando o FC Porto "só" vencia por 1-0, Casillas está longe de ser o guarda-redes com mais trabalho do campeonato. Entre os das equipas que ocupam os quatro primeiros lugares da classificação, até é o que tem jogos mais "descansado". A média de defesas do Santo é de 1,3 por encontro, enquanto a Matheus (antes de se lesionar) é de... 5. Vlachodimos, do Benfica, apresenta uma média de 2,7 intervenções por desafio e Salin, do Sporting, de 3,2. No entanto, e olhando para a estatística dos três clássicos que fez na Luz, a probabilidade de Iker ter mais trabalho do que até aqui é mais alta. E as hipóteses de brilhar também.

2017/18 Benfica-FC Porto 0-1

O espanhol "come" clássicos ao pequeno-almoço e transmite uma enorme tranquilidade a quem está à sua frente. E se o jogo é na Luz - onde já ganhou uma Champions -, então o hábito é brilhar. Começou o último com uma saída segura dos postes para agarrar um cruzamento e depois chamou a si o protagonismo, bem alto, em dois lances: aos 22" impediu que Cervi marcasse num remate cruzado e a fechar a primeira parte fez o mesmo, quando Pizzi apareceu à sua frente. Provou que os reflexos não estão condicionados pela idade.

2016/17 Benfica-FC Porto 1-1

Na época passada, ofereceu o triunfo do FC Porto na Luz com cinco defesas incríveis. Desta vez, ficou-se por um empate e quatro paradas. Aos 62", desvia para canto um remate em arco de Jonas. Aos 65", corrige a deslocação e voa para o lado contrário para, de forma milagrosa, evitar o 2-1. Aos 72", fez melhor e parecia impossível ser... possível. Com as mãos, defendeu o tiro de Mitroglou, isolado; com os pés, sacou a recarga de Lindelof. Um monstro, chamaram ao Santo. Jorge Jesus chamou-lhe o mesmo no clássico do Dragão contra o Sporting. Casillas deve ter queda para estes jogos.

2015/16 Benfica-FC Porto 1-2

San Iker numa noite para mais tarde recordar. Exibição monstruosa com cinco defesas impressionantes. Começou, aos 15", a remate de Pizzi, continuou, aos 35", ao voar para dar uma sapatada a um tiro de Jonas. Brilhou ainda mais na segunda parte: aos 53", com Gaitán isolado, fechou a baliza e foi ao chão desviar para canto. Aos 67", fez a defesa da noite pelos reflexos que teve a sacudir um corte de Indi. Um minuto depois, usou o pé esquerdo para afastar um desvio de Mitroglou. Nada podia fazer no golo.

Bruno Filipe Monteiro