Na Europa, a Oliveirense havia vencido uma Taça CERS (1997). Acaba de lhe juntar a Taça Continental. Com a época a começar, volta a lutar por todos os títulos ao lado de FC Porto, Benfica e Sporting.
Nas duas últimas épocas, a Oliveirense, graças a António Rodrigues, patrão da Simoldes, montou uma superequipa. Já pertence a um grupo de elite onde está o Barcelona, mas, para Tó Neves, o emblema que leva na camisola ainda não conquistou o respeito de todos.
Esta Taça Continental desbloqueou o que parecia enguiçado com as duas finais europeias perdidas?
-Esta taça foi mais uma oportunidade de ganhar neste novo ciclo em que formámos uma equipa mais competitiva. Nestes últimos dois anos foi a altura em que se investiu mais e em que tivemos a equipa mais equilibrada para lutar por títulos.
Como conseguiu mostrar o controlo emocional que faltou nas duas finais com o Benfica e com o Reus?
-Na última final-four da Liga Europeia, ganhámos ao Barcelona e, menos de 12 horas depois, defrontámos o Reus. Foi uma descarga emocional grande e tudo estava a ferver na cabeça dos jogadores, que não estavam preparados. Agora, somos uma equipa mais madura e que aprendeu com os erros. Nesta final os jogadores estavam imbuídos na conquista de um título e meteram tudo em pista.
Foi essa descarga que o fez perder a liderança no final do campeonato?
-A Oliveirense, tal como os que não pertencem aos tubarões, tem dificuldade em disputar títulos com grandes campeões. Viu-se na final europeia da Luz e no campeonato, em que ficámos sem um jogador na três últimas jornadas [suspensão de João Souto]. Emocionalmente, isso baralha qualquer estrutura. Se queremos ganhar, temos de ser sempre muito mais fortes.
É um handicap que sente mais em jogos internacionais ou só a nível nacional?
-Na Europa, já ganhámos ao Barcelona, com uma arbitragem brilhante, e perdemos com o Reus, porque mereceu. Aqui jogamos contra FC Porto, Benfica e Sporting e reconheço que não é fácil apitar nas pistas de qualquer um destes três grandes, além de que as regras, como estão feitas, dão azo à discussão. Os clubes não são tratados da mesma forma, mas não há muito a fazer. Já despendi mais energias com arbitragem. Não entro em guerras que não consigo ganhar.
Houve razão nas queixas ao longo da época passada?
-Quando alguém se queixa publicamente é porque existe razão nos protestos. Sendo o Benfica, o FC Porto, ou o Sporting a queixar-se, essas queixas têm mais gente a ouvir...
Quando treinou o FC Porto, sentiu isso? E sente-se agora mais prejudicado na Oliveirense?
-Se olharmos para o futebol, os três grandes são os que se queixam mais e normalmente são os mais beneficiados. No hóquei, funciona por ciclos e, quando há mais equilíbrio, há mais esta discussão.
Como viu o boicote do Benfica à final-four da Taça de Portugal?
-Tudo o que seja não competir não posso estar de acordo. Privar os jogadores de fazer o que mais gostam não é bom. Falou-se mais da ausência do Benfica do que da Taça e os que estão no hóquei têm de pensar nele como um produto: quanto mais ele valer, mais valemos todos. O lado positivo é que o treino do Benfica deu na televisão.
Portugal tem o melhor campeonato do mundo?
-Em termos de espetacularidade, sim. Em termos de candidatos, nunca vi nada parecido.
Pode dizer-se que há quatro grandes?
-Se, este ano, formos ouvir a opinião dos treinadores portugueses, se calhar 90 por cento são capazes de ter essa opinião. No ano anterior, alguns disseram que não acreditavam que a Oliveirense pudesse discutir um titulo. Agora, a maior parte das pessoas acredita que a Oliveirense possa intrometer-se.
Quem tem Puigbi, Bargalló, Souto, Barreiros, Moreira tem uma grande equipa...
-Para mim, os meus jogadores são o melhor dez.
No investimento é um dos quatro grandes?
-Sim.
Qual é o orçamento?
-Não faço a mínima ideia.
Metade da equipa é portuguesa, outra metade espanhola. Como faz a gestão entre vizinhos?
-Às vezes, nos treinos, quando dou por ela está a jogar Portugal-Espanha e acaba por ser uma convivência saudável.
E discute-se a Catalunha?
-O galego não quer saber, mas há um fundamentalista que em dia de folga fez questão de ir votar, há outro independentista mais reservado e dois que também não querem saber. Há discussão com os portugueses que, por sua vez, têm apenas curiosidade em saber as motivações.