FC Porto

"Surpreende-me ver Marega a este nível no FC Porto"

Tony Dias/Global Imagens

Alain Giresse, ex-selecionador do Mali, diz que o avançado tem de trabalhar mais para aproveitar melhor as oportunidades na cara do golo.

Os cinco golos e três assistências de Marega neste início de temporada atraíram atenções, causaram admiração e têm sido um tema muito debatido. Alain Giresse, treinador que o lançou na seleção do Mali, explicou, em exclusivo a O JOGO, que o africano tem progredido imenso, mas que ainda tem aspetos a aperfeiçoar para ser um avançado de referência mundial.

Surpreende-o ver Marega a este nível?

-Surpreende, sim, um pouco. Lancei-o na seleção do Mali e hoje surpreende-me que tenha conseguido chegar a um clube como o FC Porto, que é um grande europeu. Por outro lado, tem tido uma evolução lenta mas segura.

No FC Porto, ele já jogou no eixo do ataque e na ala direita. Em que posição o vê tirar mais partido das suas capacidades?

-É um jogador que não se poupa a esforços durante os 90", que se entrega, que tem um grande volume de jogo e que não tem medo do esforço. Mas para que possa instalar-se no eixo do ataque, como um 9, precisa de ser mais eficaz e concretizar mais oportunidades.

Ter um jogador como Aboubakar ao lado, quando jogam ambos no eixo do ataque, não ajuda Marega a ter essa eficácia?

-Ele precisa de ser mais eficaz porque tem oportunidades, mas o coeficiente de concretização não é suficientemente elevado. Não é uma questão de complementaridade, tem mais a ver com as capacidades dele e com a capacidade que tiver de fazer aquilo que é necessário para marcar.

Pode não marcar golos suficientes, mas também os sabe dar a marcar...

-Sim, e isso viu-se contra o Mónaco: teve muita lucidez no momento dos passes que fez para os dois últimos golos do FC Porto. Soube meter a bola no timing certo e no sítio certo. Mas onde digo que ele precisa de progredir é no último gesto.

E como é que ele pode melhorar isso?

-Nos treinos, com as indicações do Sérgio Conceição. Mas o aspeto técnico é tão importante como o lado mental e ele demonstrou no Mónaco que é capaz de ter a inteligência necessária para analisar uma situação de ataque e tomar as melhores opções para que se chegue aos golos. Até para armar um remate, essa inteligência é importante. É sempre uma questão de domínio técnico, para ter o gesto que melhor corresponde à situação com que se depara.

Quando fala na vertente mental, a influência de Sérgio Conceição pode ajudá-lo a mudar?

-Um jogador precisa sempre de acompanhamento e de sentir que o treinador confia nele. O Sérgio sabe certamente aquilo que tem a fazer para que ele continue a evoluir e o Marega tem de saber aproveitar a experiência do treinador para tirar dali benefícios, que depois vão ter forçosamente reflexos no rendimento da equipa. Ter o Sérgio Conceição com ele e estar rodeado de bons jogadores é tudo aquilo que um avançado pode desejar para se sentir desafiado em todos os treinos e em todos os jogos, e isso certamente fará com que ele vá ultrapassando um patamar a seguir ao outro sem dar por ela.

Viu-se Marega a defender no Louis II. Isso surpreendeu-o?

-Como eu disse, é muito generoso quando está em campo, dá tudo o que tem fisicamente. Tem uma capacidade física enorme e isso permite-lhe jogar na frente e ajudar atrás, quando é necessário, e o Mónaco foi exemplo disso.

Imagina-se que já tenha muitos olhos em cima dele...

-Nunca se sabe até onde poderá chegar, mas para já mostrou que tem argumentos não só para estar no FC Porto, como ainda para ser um dos titulares. Tem de continuar, consciente de que ainda não atingiu os seus limites e de que ainda pode chegar mais alto. É uma questão de trabalhar, ser humilde, voltar a pôr tudo em causa a cada dia para continuar a superar-se.

Que conselhos lhe deixaria?

-Que trabalhe com consciência, com convicção e confiança nele. Isso é o mais importante para fazer face aos desafios que ainda vai ter pela frente.