O ex-treinador do Braga assinou com o Al-Sharjah, dos Emirados Árabes Unidos, por seis meses. Aceitar este projeto, diz, não tem nada a ver com a meia época passada no Minho
José Peseiro foi ontem formalmente apresentado no Al-Sharjah, equipa dos Emirados Árabes Unidos onde o treinador irá trabalhar nos próximos seis meses. Cerca de duas semanas após ter deixado o comando do Sporting de Braga, o técnico garante a O JOGO que este já era um namoro antigo e que não está a fugir de Portugal após a saída do Minho.
"O presidente deste clube já tinha falado comigo várias vezes, mas eu estava sempre com contrato e em projetos mais aliciantes. Neste momento não estava muito preocupado em voltar a trabalhar, pensava refletir sobre o que se passou [no Braga], mas voltaram a falar comigo e acedi. Gostaria de ter tido mais felicidade [em Portugal], mas não me sinto desvalorizado, nem menos treinador, e isto não é uma fuga", frisou José Peseiro. Para trás fica meia época sem sorte e que o treinador não sabe explicar. "Temos de saber entender as coisas mesmo quando elas não são "justas", entre aspas. As pessoas vivem uma vida social e económica complicada, e o futebol é o refúgio de muitas angústias e frustrações. Desde o primeiro dia nunca senti apoio das bancadas, nem a tolerância mínima que um treinador tem de ter para fazer um bom trabalho", referiu Peseiro, que não percebe a origem de tanta animosidade dos adeptos para consigo. Algo que, lembra citando António Salvador, em entrevista a O JOGO a 31 de dezembro, também o líder do Braga não sabe explicar. "As pessoas são livres de gostar do que quiserem. O Paulo Fonseca fez um excelente trabalho, marcou uma posição, mas o José Peseiro já tinha passado no Braga, e não de forma cinzenta. O Braga esteve na Champions porque eliminou a Udinese com o José Peseiro, tendo um orçamento sete ou oito vezes menor, tal como ganhou o primeiro troféu a sério desta nova era do clube, a Taça da Liga [2012/13]. Apesar disso, não me lembro de um treinador tão intolerado como eu, mesmo os que não tiveram um décimo do meu sucesso; não houve um jogo em que não fosse criticado e apupado", afirmou, mesmo deixando a certeza de que "o treinador está cá para pagar pela menor competência de todos, a começar nele mas passando por todos os que o rodeiam".
Ainda numa análise à passagem pelo Minho, Peseiro admitiu ter errado no jogo com o Covilhã, que ditou o afastamento do Braga da Taça de Portugal e fez estalar o chicote. Mas apresenta explicações. "O Braga, das quatro equipas de cima da tabela, foi aquela que perdeu mais jogadores influentes. Além disso, durante a minha estadia no clube tivemos dificuldades em construir a equipa devido a lesões. Mas também tenho de me penitenciar: quando decidi fazer descansar seis jogadores frente ao Covilhã, foi a pensar em ganhar ao Sporting e, pela minha cabeça, nunca passou que podia perder, mas sim que podíamos ir ganhar a Alvalade. Decidi poupar jogadores porque o Braga andava com jogadores sobre o arame, em risco de se lesionarem", justificou Peseiro. "Errei porque quis ganhar os dois jogos. Sim, fui eu quem escolheu o onze contra o Covilhã, mas também fui eu quem imaginou a equipa que foi ganhar a Alvalade. Podia ter abdicado de tentar ganhar em Alvalade, sabendo que, com o ambiente criado à minha volta, estava a salvaguardar a minha pele", acrescentou.
A passagem pelo FC Porto também mereceu uma análise do novo técnico do Al-Sharjah: "O que encontrei não tinha nada a ver com este ano, basta ver que muitos dos que disputaram a final da Taça de Portugal da época passada ou são dispensados ou são reservas. Era um contexto de recurso como, se calhar, o clube nunca tinha tido na história recente."