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Bruma justifica todos os riscos

O miúdo de 18 anos levou puxão de orelhas dos colegas, que já o ilibaram. Continua a merecer confiança de Jesualdo e a aprender no terreno

É dos jogadores que mais entusiasma os adeptos, pela imprevisibilidade, velocidade, explosão, técnica e irreverência própria da idade, mas a verdade é que está intimamente ligado aos dois últimos golos sofridos pelos leões. Pela ação de Bruma, que com um toque de calcanhar na linha de fundo, colocou a bola nos pés de Mateus, que assistiu Candeias para o golo do Nacional que igualava a partida em Alvalade; pela inação de Bruma, Tony fez a recarga vitoriosa de cabeça, sem oposição, ao livre de Josué à trave, no triunfo do Paços de Ferreira que comprometeu as aspirações europeias do Sporting. A "falta de experiência" denunciada por Jesualdo no final da derrota na Capital do Móvel e os puxões de orelhas dadas em pleno relvado pelos companheiros da defesa (Miguel Lopes, no lance do golo, e Rojo, logo a seguir, em outra jogada de perigo iminente em que o jovem 51 condescendeu na investida pacense), não comprometem a aposta num jogador que, diz quem ajudou a lançar na equipa principal miúdos como Nani, Miguel Veloso ou Yannick Djaló, é um "predestinado".

"A aposta num jogador de 18 anos como o Bruma implica sempre alguns riscos, é inevitável", concede Carlos Pereira, adjunto de Paulo Bento no Sporting, para concretizar: "Agora, com as provas que ele vinha dando na equipa B e está a dar no plantel principal, é um risco calculado. É um jogador talentoso, com muita qualidade técnica e grande personalidade, grande carácter. Encara olhos nos olhos quem tem pela frente e não tem medo de enfrentar os adversários. Isso viu-se nos jogos que fez com o FC Porto ou o Benfica, por exemplo. Estamos na presença de um predestinado". "Ele vai crescer, e cresce jogando, é uma questão de tempo", confia o irmão de Aurélio Pereira, antes de reconhecer que Bruma terá de melhorar a ação defensiva: "Até pelo percurso que teve na formação, tem um caudal de jogo marcadamente ofensivo, terá de melhorar um pouco o trabalho defensivo, é normal."

Mais do que a vertente tática ou técnica, Carlos Pereira entende que Bruma precisa ter em atenção os eventuais efeitos nefastos da fama e da condição de estrela emergente, contando para isso com o homem certo para o acompanhar. "O que acho que é mais importante, e Jesualdo faz isso melhor que ninguém, porque já esteve envolvido em processos idênticos, é precaver o natural deslumbramento de um jovem que de repente tem tanto sucesso, é seguido por grandes clubes e tem um tão grande impacto mediático", alerta Carlos Pereira.