Mais do que os próprios resultados, outros números indicam perda de qualidades de uma equipa que talvez já esteja demasiado habituada a ganhar. Será apenas uma crise momentânea, fruto da falta de um líder, ou o modelo está mesmo a esgotar-se?
A Catalunha está em sobressalto; a eliminação da Taça de Espanha frente ao Real Madrid e a vitória de apenas cinco das últimas 11 partidas lançaram a pergunta: estará o mundo a assistir ao início do fim da era do Super-Barça? Mesmo com 12 pontos de avanço no campeonato e o título quase no bolso, os jornais normalmente próximos do clube blaugrana desdobram-se em análises para a crise. E todos os caminhos desaguam num ponto comum: a falta de uma liderança consistente, causada pela doença de Tito Vilanova e sua substituição por Jordi Roura, "adjunto do adjunto".
Explicações à parte, a crise é indesmentível e assente em números, conforme O JOGO constatou. O Barça atual, quando comparado com a equipa dos últimos três anos, remata menos e com pior direção, permite que os adversários rematem mais e, por outro lado, não interceta tantas bolas e faz menos faltas. Ou seja, a agressividade sobre o adversário tem decrescido - e sabe-se como disso depende o tiki-taka: roubar depressa a bola ao opositor, de preferência ainda no seu meio-campo, por forma a mantê-lo durante esmagadora parte do tempo encostado à sua baliza.
A opinião de Philippe Montanier, treinador da Real Sociedad, corrobora a verdade dos números, que também indicam o aumento dos passes curtos e uma insistência cada vez maior na zona central. "Tem sido mais notória a falta de profundidade do jogo", afirmou a O JOGO o treinador de uma equipa que somou uma vitória e um empate nas duas últimas visitas dos culés a San Sebastián.
A derrota do Barça no Anoeta, por 3-2, a 19 de janeiro, marcou o início desta crise que teve mais duas derrotas, com Real Madrid e Milan. "Não passou de uma coincidência. Entraram então numa série de resultados negativos, mas por pura casualidade", prossegue Montanier, constatando ainda a evidência de dois outros problemas: "a extrema dificuldade em criarem ocasiões de golo" e a dependência da genialidade de Messi. "Quando as coisas corriam mal, estava lá ele para as resolver. Habituaram-se demasiado a isso."
Mas Messi tem estado cada vez mais "enjaulado", recurso utilizado como segredo para travar os catalães. Os opositores, naturalmente, têm antídotos cada vez mais fortes, até porque os pressupostos da tática vencedora pouco têm mudado.
Quanto a outras culpas, apontam-se a menor pressão sobre o adversário, que torna a equipa mais desconjuntada. A má forma de Alexis Sánchez ou Daniel Alves, assim como a saturação do modelo por parte de um conjunto de jogadores que já ganhou tudo o que havia para ganhar e, por outro lado, vai ficando cada vez mais velho (Xavi, por exemplo, já tem 33 anos) serão outros fatores. Amanhã, no Bernabéu, se verá se as notícias da "morte" deste Barcelona são ou não exageradas.