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Felicidade Clube do Porto

Batiam as 17h55, em Pedras Rubras, quando o avião abriu a porta para deixar sair o capitão Helton, que saudou os pouco mais de meio milhar de adeptos que foi receber os jogadores. Os dragões da TAP aproveitaram a oportunidade para tirar fotos para a posteridade, enquanto no alto da torre de controlo tinha sido içada uma bandeira azul e branca. Só 40 minutos depois, o autocarro viria a deixar o aeroporto em direcção aos Aliados. Problemas mecânicos que levaram a várias paragens pelo caminho acabaram por levar à substituição do veículo, improvisando-se a decoração, mas sem perder o espírito festivo e as garrafas de cinco litros de cerveja que haviam de "regar" o povo na hora da festa.

Nos Aliados, que por essa hora já ferviam, o autocarro que liga a Trindade via Monte da Virgem, preso no meio dos adeptos azuis e brancos que invadiram a Avenida dos Aliados, tinha no painel electrónico "parabéns FC Porto". No meio dos adeptos, as vendedoras de avental e saco a tiracolo anunciavam o cachecol alusivo à vitória na Liga Europa com aquele sotaque tripeiro típico. "São cinco euros! Olhe que é verdadeiro". Na zona onde ficaram concentrados os Super Dragões, as gargantas aqueciam com umas cervejas à mistura por entre os "olé Porto olé, nós somos a tua voz...". No ar, de braços bem esticados, muitos aproveitaram para registar mais uma página histórica do clube, que há-de ser divulgada via Facebook e deixar milhares de polegares virados para cima em sinal de aprovação. As camisolas estampadas de Deco, Jardel e Lucho, generais de outras conquistas, misturaram-se com um coro de vozes que arrepiou e aplausos que contagiaram até quem saía do emprego de fato e gravata.

A impaciência crescia. Os directos televisivos iam mostrando os motivos do atraso, até que em poucos minutos se ouviu a maior irrupção de alegria da tarde. O helicóptero que filmou tudo surgiu no céu e o povo cantou. "O FC Porto já ganhou a Taça, como em 2003...", a recepção era feita como convém a mais um São João antecipado, um hábito dos últimos anos. As gargantas roucas de tanto cantar escoltaram uma volta de honra de mais de uma hora dos dois autocarros, braços no ar e petardos a ecoar na avenida, tochas a envolver o ambiente num nevoeiro que se instalou debaixo de um céu pesado a ameaçar a chuva: Nada que travasse a gigantesca manifestação de alegria, como não tinha travado outra, de protesto, horas antes no mesmo cenário, da CGTP. Pelo direito a ser feliz, as duas.