Quem aos 33 anos chega a uma final europeia e já leva no bornal um título nacional sem derrotas e uma Supertaça, estando ainda habilitado a ganhar mais duas provas, a Liga Europa e a Taça de Portugal, tem de ser um predestinado, um sortudo competente que apanhou a boleia certa e soube aproveitá-la. Mas esta será também a história de um homem que tem medo de eucaliptos.
André Villas-Boas integrava desde os 25 anos a equipa técnica de maior sucesso deste século, em vias de ficar na história como a mais bem sucedida de sempre. Chefiado por José Mourinho, ajudou-o a ganhar um rol de títulos que, até há para aí meio ano, seria considerado inimitável, mas André quebrou a amarra e nos últimos tempos, a caminhar pelo próprio pé, tem dado nova forma a uma frase de Mourinho pós-Sevilha: "Inesquecível mas não irrepetível". O Special One dissera-o sobre a euroconquista e é facto que depois da UEFA já venceu duas Champions para juntar a um par de títulos nacionais em Portugal, outro em Inglaterra e um terceiro em Itália.
Villas-Boas já não participou nas últimas vitórias do Inter de Milão. Sentindo que era hora de evoluir, quis mais do que aquilo que tinha, afrontou o chefe e saltou em andamento antes que a coisa azedasse (ou depois de azedar..., nunca o esclareceram). Ao redor da grande árvore sentia-se a mirrar, os eucaliptos secam tudo quanto está volta. Aos 31 anos, a quatro dias de fazer 32, assumiu o comando da Académica. O resto da história tem sido contada e recontada nos últimos dias. Ao FC Porto transmitiu a grandeza e ambição num aproveitamento extraordinário da matéria-prima existente; aos jogadores deu liberdade mas catalogou-a. O resultado foi a construção de uma verdadeira equipa, onde há espaço para as vedetas. Como João Moutinho, o carregador/afinador de todos os instrumentos.