Michell Deller, o grande responsável pelo lançamento da carreira do treinador, pede paciência para um “doente pelo futebol”, que analisa tudo ao pormenor
Grande figura da transformação do Independiente del Valle, Michell Deller é o empresário e proprietário que mudou a história do clube, tornando-o modelo na América do Sul, fruto de resultados e apostas em técnicos que assinaram grandes proezas. Martín Anselmi, que ainda não convenceu a plateia portista, foi um “achado” do dono do IDV, ligado às três conquistas de índole internacional do emblema, uma Sul-Americana como adjunto de Miguel Angel Ramírez, e outra Sul-Americana e uma Recopa já como principal.
Agora que o FC Porto luta apenas pelo melhor final de época, combalido por vários desaires, e que decisões urgem para tornar o plantel mais poderoso e vibrante em 24/25, importa conhecer Anselmi noutra dimensão. O planeamento de uma temporada é um ponto forte, garante Deller. “É um estudioso do futebol, obsessivo a repetir os vídeos das equipas rivais. Filma os seus próprios treinos e utiliza metodologias modernas. É muito menos empírico, interessa-se pelos detalhes mais exaustivos da sua equipa e do rival”, avalia, deixando estimulantes certezas. “É tipicamente argentino, doente pelo futebol, vê imensos jogos e identifica talento jovem adequado ao seu esquema e modelo. Tinha claro os jogadores que queria trazer para complementar o plantel, ajustando-se sempre à realidade e orçamento do clube”, elogia.
Deller, também ele um entusiasta pelo futebol em estado puro, acrescenta pormenores elucidativos de um Anselmi que já deixou pistas da sua personalidade. “Ele reflete muito, gosta de justificar os seus processos, é muito racional, analisa tudo ao pormenor e envolve as pessoas nas sessões de trabalho. Também convidava os dirigentes para as palestras antes dos jogos, porque procura fazer entender a toda a gente as decisões que toma”, conta. “A sua capacidade para transformar equipas é gigante, só o têm de deixar trabalhar, porque ele tem muito claro o que quer, a visão e o modelo de jogo, sabendo evoluir em cada país. Está talhado para o futebol moderno europeu, num controlo de bola curto, agressivo, de pressão alta, com jogadores que se desdobram de dentro para fora e de fora para dentro. Para o êxito só precisa de um plantel à sua medida”, relata Deller.
O dirigente enaltece o perfil de alguém que se tornou inesquecível no Independiente del Valle e antecipando que Anselmi já piscava o olho à Europa quando rumou ao México. “De maneira objetiva, tudo o que foi logrado e conquistado com Martín, foi merecido. Fomos muito superiores a grandes equipas. Não esqueço a Recopa contra o Flamengo no Maracanã. Deixou-nos competências muito visíveis como adjunto e como treinador principal. Foram dois grandes ciclos e encantando estaria se ele tivesse ficado mais tempo. Mas ele queria muito chegar à Europa e o Cruz Azul foi esse veículo, até pelos compromissos feitos pelo clube para com ele”, evidencia, sentindo que o jovem técnico que comanda os sonhos azuis e brancos, tem estaleca para lidar com a pressão. “Tem noção da responsabilidade de orientar o FC Porto, um clube imensamente histórico com adeptos amplamente exigentes. Encanta-lhe isso, porque também vem de uma Argentina que alimentava essa forma de estar todos os dias. Tem uma relação de estreita confiança com o seu corpo técnico, particularmente com o adjunto Facundo, e também projeta essa confiança nos jogadores. Tem as ferramentas para ter o sucesso em qualquer parte do mundo, lembro-me de lhe ter dito há um ano que ia acabar por entrar em Espanha ou Portugal, que daria satisfação plena a quem o contratasse”, sustenta.