Ciclismo

"O retorno da Efapel foi 12 vezes superior ao investimento efetuado"

Américo Duarte, administrador da Efapel

Américo Duarte, administrador da empresa de produtos elétricos, trocou de equipa
na época passada, mas nunca pensou deixar uma modalidade onde também está por "paixão".

Américo Duarte, engenheiro que criou em Serpins, Lousã, a Empresa Fabril de Produtos Eléctricos, e fez dela a maior portuguesa do setor - faturação superior a 50 milhões de euros anuais e cerca de 450 trabalhadores -, surpreendeu, há um ano, ao trocar uma das mais fortes equipas nacionais de ciclismo por uma nova, liderada por José Azevedo. À entrada da segunda época, e em exclusivo a O JOGO, diz-se satisfeito.

O que o levou a mudar para outro projeto de equipa?

-Tinha comunicado à Fullracing a decisão de não continuar a patrocinar a equipa um ano antes do final do contrato. No entanto, sempre foi intenção da Efapel seguir no ciclismo. Fomos contactados por várias entidades, entre elas o José Azevedo, a quem solicitámos o projeto. Após analisar as opções, entendemos que era aquele com que melhor nos identificávamos.

Ficou satisfeito com o desempenho da nova Efapel na primeira época?

-Não nos podemos esquecer que o projeto começou do zero. E considero que fizemos uma boa época. Conseguimos vários triunfos, disputámos todas as provas, exceto a Volta a Portugal, onde não foi possível atingir os resultados ambicionados. Ainda assim, conseguimos marcar a nossa identidade e afirmar-nos como uma equipa referência no ciclismo nacional, reforçando a nossa ambição com a Academia de Ciclismo Efapel, que tem escalões femininos, juniores, cadetes e paraciclismo.

Concordou com as críticas de José Azevedo ao andamento acima do normal das outras equipas na Volta a Portugal?

-O José Azevedo tem uma grande experiência de ciclismo a nível nacional e internacional. Foi diretor de grandes equipas mundiais e esteve nas maiores competições. Fez essa análise baseado na experiência, conhecimentos e comentários que soavam discretamente.

O escândalo de doping da W52-FC Porto fê-lo refletir sobre a continuação no ciclismo?

-Existem princípios dos quais nunca abdicarei e que aplico tanto na vida pessoal como profissional. O projeto do José Azevedo tem princípios com os quais mutuamente nos identificamos. Comento e interesso-me pelo projeto e sei que cumprimos todas as regras e princípios de ética desportiva. Para 2023, a Federação e a ADoP implantaram medidas importantes e necessárias, procurando a credibilização do ciclismo português. Espero que o novo regulamento seja aplicado na íntegra.

Está no ciclismo pelo retorno publicitário, paixão ou ambos?

-Logicamente que por ambos. Não é possível dissociar um do outro. Pode até entrar-se no ciclismo por questões publicitárias, mas, após tantos anos de patrocínio e envolvência, a paixão foi sendo naturalmente reforçada. É também uma aposta acertada numa modalidade tão acarinhada pelos portugueses.

Já tem números sobre o retorno de 2022?

-O retorno contabilizado pela Cision foi 12 vezes superior ao investimento efetuado. Isto em termos financeiros. Mas a Efapel Cycling é hoje uma equipa referência e bem estruturada.

Está satisfeito com o plantel para 2023? Ter nove ciclistas não será pouco?

-Acredito na equipa que o José Azevedo construiu. Ele, como responsável desportivo, é que propôs a equipa, com a qual concordei.

Que resultados vai pedir? Pode ganhar a Volta?

-O que peço é que a equipa dignifique sempre o nome da Efapel. Já está no ADN da equipa lutar pelo triunfo; sei que lutará sempre por esse objetivo. Trabalho, profissionalismo e honestidade são os princípios que guiam a equipa. A Volta a Portugal é o objetivo de qualquer equipa portuguesa e logicamente será o nosso.

Três reforços para a nova época

A primeira época rendeu seis triunfos à Efapel, que será apresentada amanhã, tendo três reforços - Emanuel Duarte, Aleksandr Grigoriev e Pedro Pinto - e reduzida a nove ciclistas, pois João Benta decidiu parar a carreira. "Acredito na equipa", diz Américo Duarte, que sustenta a decisão do diretor desportivo na dispensa polémica de Francisco Campos: "Sempre foi claro que a equipa tem um código interno. Se Azevedo assim o decidiu, é porque houve razões dentro desses princípios".

"Equipa internacional sustentada"

A Efapel já chegou a equacionar uma subida ao segundo escalão mundial - ProContinental -, ideia entretanto abandonada. "Nada é impossível. As decisões surgirão sempre de forma responsável e ponderada. O objetivo, neste momento, é continuar a cimentar a posição da Efapel no ciclismo nacional", diz Américo Duarte a O JOGO, sabendo que José Azevedo tem ambições internacionais, "o que é normal, pois esteve 20 anos no World Tour, como ciclista, diretor-desportivo e diretor-geral de uma das maiores equipas do mundo".

O administrador da Efapel revela que o projeto "é ambicioso e está estruturado ao nível das equipas onde ele correu e que dirigiu". "Em 2022 a equipa esteve em competições internacionais e vai manter essa aposta. Em fevereiro já teremos "O Gran Camino", em Espanha. Vamos crescer de forma sustentada", garantiu o empresário.

Carlos Flórido