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Sérgio Silva a O JOGO: "Pessoas a tentar fugir, a pisarem as que estavam no chão..."

. AFP

Defesa português do Arema conta que só no balneário se apercebeu do que estava a ocorrer, com os gritos desesperados da multidão

No sábado à noite, após a receção do Arema ao Persebaya, para a liga da Indonésia, o caos apoderou-se da multidão no Estádio Kanjuruhan, em Malang.

Cerca de três mil adeptos da equipa da casa invadiram o relvado para protestar com jogadores e dirigentes, o que levou a polícia a tentar dispersar as pessoas com gás lacrimogéneo. Só que o pânico rapidamente se instalou e, no total, houve mais de 130 mortos, a maioria deles depois de terem sido espezinhados por outros adeptos em fuga.

Sérgio Silva, defesa do Arema que esteve nesse jogo, fala a O JOGO dos momentos que viveu"

Calculo que o Sérgio Silva tenha vivido situações inimagináveis e que esteja neste momento a passar por um momento emocionalmente muito delicado. Como se sente agora que tudo está mais calmo?

- Foi muito chocante e por certo que nos próximos tempos vai ser muito difícil de ultrapassar tudo isto. O que se passou nada tem a ver com futebol.

Antes do jogo já sentiam um ambiente de grande pressão por parte dos adeptos?
- Sim, mas de forma normal. É um dérbi, com a emoção própria de um FC Porto-Benfica, por exemplo. A pressão normal de ganhar. Podia haver algumas retaliações, mas uma coisa é insultos ou até arremessarem objetos e outra o que acontecer. Ninguém imaginava que pudesse haver uma situação destas.

Os adeptos invadiram o relvado para protestarem com os jogadores e com os dirigentes?
- Sim, foi isso, começaram por ser quatro ou cinco e depois eram bastantes. Se calhar até vinham só falar connosco, mas nós como vimos tanta gente, percebemos que podia acontecer alguma coisa e fomos diretamente para os balneários.

Segundo disse a polícia, eram cerca de três mil adeptos a entrar no relvado...
- Sim, era mesmo muita gente e nós fomos a correr para o balneário. Que eu saiba ninguém entrou em confrontos connosco.

Mas foi aí que a polícia começou a lançar gás lacrimogéneo, certo?
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Nem vi isso, porque a partir do momento em que fomos para o balneário, só passado um bocado é que percebemos que estava um caos nos corredores. Ouvíamos gritos, mas não percebíamos se eram para tentarem invadir o nosso balneário ou se era uma situação de puro pânico deles. Depois é que começámos a perceber que era por pânico, pelos confrontos com a polícia, pelo gás, pessoas a tentarem fugir e a abalroarem outras, a atropelarem-se, a pisarem outras que estavam no chão.

Rodrigo Cortez