FORA DA CAIXA - A opinião de Joel Neto.
A desmobilização generalizada entre os subscritores da Superliga Europeia, que à hora de almoço de ontem já tinha deixado o Real Madrid e o Barcelona sozinhos, tem algo de erro estratégico. Aguentando um pouco mais, o projeto influenciaria com outra rapidez a transformação do futebol europeu.
Mas essa transformação continua inevitável. A UEFA sabe que as necessidades e as exigências dos super-ricos se vão manter. E deixar-se agora a cantar vitória seria como os Aliados terem-se posto a dançar sobre as cinzas dos Impérios Centrais, finda a Primeira Guerra Mundial - não tardou até rebentar uma Segunda.
Para já, está completada uma fase do processo: fez-se a revolução e os revolucionários recolheram. Agora, é altura de as duas partes estenderem as mãos uma à outra. Com o mesmo desfecho que se previa no domingo: o destacamento, no futebol europeu, de uma superelite mais exclusiva ainda do que a da Liga dos Campeões.
Compreendo que se celebre o desmantelamento das forças dissidentes e se aplauda o facto de terem sido os adeptos a forçá-lo. Saúdo o primeiro, mas torço o nariz ao segundo. Nós achamos que foram os adeptos, os clubes revoltosos acham que foi o mercado. Os adeptos, paciência - o mercado é que não se pode hipotecar.
Não deixa de ter graça. Há mais de 30 anos que o futebol se vende, descaracteriza e priva de referências sob o olhar destes mesmos adeptos. Pelos vistos, há um grau razoável para isso. Mas só significa que a dita Superliga tem de ser revestida de outras cores. Nascendo no âmbito da própria UEFA, como nasceria sempre.
De resto, as notícias da morte da ideia são exageradas. Foi tudo feito em cima do joelho, mas o negócio continua tentador. E Florentino tem razão: ou se faz alguma coisa ou, em 2024, todos aqueles clubes estarão aflitos. Por culpa própria, mas isso agora é o menos.