FORA DA CAIXA - Um artigo de opinião de Joel Neto.
Mas é claro que o Tribunal Arbitral do Desporto tinha de absolver João Palhinha, o Sporting e qualquer jogador e/ou clube na situação deles.
O castigo que de início impendeu sobre o atleta foi pura e simplesmente um absurdo. O país pôde comprová-lo logo no dia da suposta infracção e, mais importante ainda, o próprio árbitro cuja decisão motivou a sanção confessou o erro no relatório.
Decretar castigo só podia basear-se num capricho jurídico, e é esse que tem sido desmascarado pelas sucessivas instâncias chamadas a julgá-lo.
E, no entanto, a FPF vai recorrer, em defesa da decisão do Conselho de Disciplina e do hábito adquirido. Portanto, soma-se a uma tecnicalidade outra tecnicalidade ainda - rebuscadas, forçadas e inválidas, do ponto de vista do espírito da lei, como sempre são as tecnicalidades.
Isto é: depois de reduzida a zero a percepção de justiça, reduz-se a zero a intenção de justiça também. E eu pergunto-me: é assim que a Federação pensa contribuir para a concórdia no futebol português? É essa a estratégia para acabar com o clima de guerrilha - insistir na validação de uma sentença evidentemente descabida, contrária aos fins dos regulamentos e até (assim o indicam as instâncias convocadas) à respectiva letra?
O país viu. É isso que me inquieta. Hoje João Palhinha, amanhã Pepe, depois de amanhã Grimaldo, Al Musrati, Marco Baixinho ou Aylton Boa-Morte. Como é que o país pode assistir a uma injustiça cabal, ficar a saber da intenção federativa de fazê-la vingar contra todas as evidências, testemunhos e pareceres e, mesmo assim, parar de discutir sete penáltis por jogo? Como é que os adeptos de futebol dos clubes que ganham e - mais ainda - dos clubes que perdem podem acreditar na justiça das grandes e pequenas decisões contemporâneas das suas vitórias e derrotas?