ENTREVISTA >> A crença vendida pelo treinador de que é sempre possível dar a volta a uma má situação sustenta a esperança do capitão portista em conquistar o título. Mas, Pepe fala ainda de ser capitão e dos mais novos do plantel
Pepe não se limita a liderar pelo exemplo. Quando é preciso, o central chama os companheiros à razão. Foi isso que aprendeu com todos os capitães que teve na carreira, inclusive quem lhe passou a braçadeira no FC Porto: Danilo.
Que tipo de capitão é: dos que lideram pelo exemplo ou dos mais interventivos?
-[risos] É uma boa pergunta. Um pouco dos dois, até porque depende do momento. Há momentos que pedem um pouco mais de rigor e que se exija mais a um companheiro em determinada altura do jogo, para que não relaxe ou não vá abaixo por uma decisão menos positiva. Mas o grupo é muito sadio, sabe o que quer, é muito humilde na hora de trabalhar e, quando é assim, torna-se fácil para um capitão. Os jogadores sabem o clube em que estão e conhecem os seus pilares, que passam por sermos competitivos e colocarmos sempre o nome do clube em primeiro lugar. Não pensamos no individual, mas no coletivo. É muito bom ter jogadores que reconhecem rapidamente o que o clube exige e o que o treinador pede.
Entre os capitães que teve, qual usa como exemplo?
-Ao longo da minha carreira tive vários e era injusto falar apenas em um, porque todos foram muito importantes para mim. Desde o Mitchell van der Gaag, no Marítimo, passando pelo Jorge Costa, aqui no FC Porto. O Jorge [Costa] foi um capitão referência para mim, porque passou a ideia do clube, o que é o clube, o que significa representá-lo e a responsabilidade de darmos o máximo dentro e também fora do campo. Tive o Raúl, o próprio Iker [Casillas]... Foram vários os capitães que também tive no Real Madrid que foram uma referência. Hoje tento aproveitar um pouco de cada um. O próprio Cristiano Ronaldo, na Seleção, com a sua paixão pelo trabalho e pelo jogo em si. Procuro passar isso e um pouco da minha experiência para os jogadores novos, que têm um futuro que só depende deles.
"Gosto de aprender com os mais novos"
Defesa de 37 anos procura nas conversas com os jovens centrais do plantel a forma de ser renovar e adaptar ao futebol moderno.
Mbemba disse que era um honra jogar ao seu lado e que o Pepe lhe dava muitos conselhos. Como reage a estes elogios, que recomendações lhe dá e como é o entendimento, porque falam línguas diferentes?
O Mbemba já solta algumas palavras em português [risos]. Isso é bom, pois é sinal que a mensagem está a chegar aos meus companheiros. Tenho uma forma muito particular de ser que me marca muito, que é a humildade, o trabalho e a paixão em cada exercício e em cada lance de jogo. Para um defesa, é sempre importante ter essa determinação, tanto com o Mbemba, como com o Diogo Leite ou o [Diogo] Queirós, que também já passou por aqui. São pessoas com quem falo bastante, porque gosto de me atualizar. Apesar de eles não terem a bagagem de uma carreira de 20 anos, gosto de aprender com eles porque é sinal que me vou renovando e adaptando ao futebol moderno.
O que muda para um central de uma defesa a quatro para uma defesa a três?
-Depende do que o jogo vai exigir. Às vezes podemos jogar com dois centrais e um lateral a fazer de terceiro central, outras vezes podem jogar três centrais. Depende da exigência do jogo e do que se prepara para tentar surpreender o adversário. Com quatro, um lateral tem de atacar, outro tem de ficar, é o "abc" do futebol. Ou, se atacam os dois, o nosso trinco tem de dar esse suporte para ter sempre esse equilíbrio. Depende do jogo...
E entre jogar sobre a direita ou a esquerda? Que tipo de adaptações teve de fazer?
-Passei a minha carreira quase toda a jogar sobre a direita. Nos últimos dois anos aqui tenho jogado sobre a esquerda. Muda muito em relação a algumas coisas, em relação ao apoio, à abordagem aos lances, postura corporal também é completamente diferente.