Ciclismo

"Sagan? Estava chocado e zangado e não usei uma palavra muito agradável"

Peter Sagan foi relegado para último do pelotão EPA

Peter Sagan foi relegado para último do pelotão por sprint irregular no Tour

Caleb Ewan (Lotto Soudal) consolidou esta quarta-feira o estatuto de melhor sprinter da atualidade, ao conquistar ao milímetro a sua quinta vitória na Volta a França em duas edições, numa 11.ª etapa marcada pela penalização a Peter Sagan (Bora-hansgrohe).

O sprint mais emocionante deste Tour, que obrigou ao recurso ao photo finish, ficou manchado pelo castigo a Sagan, que deu um ligeiro "encosto" a Wout van Aert (Jumbo-Visma) para conseguir afastar-se das barreiras e chegar à frente, onde Ewan se lançava para o seu segundo triunfo nesta edição - o colégio de comissários reviu as imagens e, como tem sido seu apanágio este ano, foi implacável com o eslovaco, relegando o recordista de camisolas verdes da prova (sete) para o último lugar do pelotão.

Não fosse a penalização ao mais emblemático dos homens velozes do ciclismo e a vitória do australiano teria um sabor ainda mais especial: bateu Sagan e o irlandês Sam Bennett (Deceuninck-QuickStep), os ciclistas que estão na luta pela amarela, e somou a quinta etapa em apenas duas presenças na Volta a França, um registo invejável para alguém com apenas 26 anos e que tem também três triunfos no Giro e um na Vuelta.

"Estou super feliz com as duas vitórias em etapas: uma retira-nos pressão e, depois da primeira, queres uma segunda. Agora, quero outra, especialmente em Paris. Espero passar bem as montanhas e ter outro "sprint" em Paris", disse o pequeno australiano, que venceu a derradeira etapa, em plenos Campos Elísios, no ano passado.

Em mais um dia de apatia na Volta a França, Matthieu Ladagnous (Groupama-FDJ) foi o outro destaque da jornada, atacando assim que a partida real foi dada, conquistando rapidamente mais de três minutos de vantagem e aguentando-se a solo cerca de 124,5 quilómetros dos 167,5 entre Châtellaillon-Plage e Poitiers.

O bravo francês foi o animador de uma 11.ª etapa em que só a aproximação ao "sprint" final agitou um pelotão adormecido: a cinco quilómetros, saltou para a frente de corrida, numa jogada inesperada, Lukas Pöstlberger (Bora-hansgrohe), sendo imediatamente seguido por dois companheiros de Bennett, Kasper Asgreen e Bob Jungels.

A guerrilha pela camisola verde acabou tão rápido como começou, com a discussão pelos pontos a fazer-se no sítio do costume: na meta, Ewan impôs ao milímetro a Sagan, Bennett e Van Aert, com estes dois a ocuparem o pódio da tirada após a penalização ao ciclista da Bora-hansgrohe, que também foi castigado com a perda de pontos e agora está a 68 da liderança do irlandês da Deceuninck-QuickStep.

"Aceitamos a decisão do júri. Queremos sempre ganhar, mas de uma forma respeitável, mesmo quando a adrenalina está no topo", partilhou a equipa alemã na sua conta na rede social Twitter, enquanto o eslovaco permanecia em silêncio.

"Estava chocado e zangado e não usei uma palavra muito agradável. Depois, tentei dizer-lhe que aquilo não se faz e ele não gostou. A única coisa que recebi de resposta foram palavras fortes, por isso foi difícil conversarmos", queixou-se Wout van Aert, apontado como um possível sucessor do todo-o-terreno Sagan.

A posteriori, o corredor da Bora-hansgrohe justificou-se, em declarações reproduzidas pela sua formação, alegando que teve de "desviar-se para evitar as barreiras" e prometendo que continuará a lutar pela oitava camisola verde.

Alheios aos dramas entre sprinters, os candidatos à vitória final concluíram a etapa nas mesmas 04:00.01 horas do vencedor, mantendo-se a geral imutável: o esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma) lidera, o colombiano Egan Bernal (INEOS) é segundo, a 21 segundos, e o francês Guillaume Martin (Cofidis) é terceiro, a 28.

Já Nelson Oliveira (Movistar), que chegou integrado no pelotão, vai partir para a 12.ª etapa, a mais longa da prova, na 57.ª posição da geral, a mais de uma hora do camisola amarela. Na quinta-feira, na ligação de 218 quilómetros entre Chauvigny e Sarran Corrèze, os ciclistas enfrentarão um trajeto mais acidentado, que inclui uma contagem de segunda categoria a 25,5 quilómetros da meta.

Redação com Lusa