ENTREVISTA (parte 1) - O reforço mais sonante do Aves não quer que o vejam apenas como o filho de Zidane. A carreira de Enzo é para ser construída a pulso, embora o facto de carregar um apelido lendário seja um "orgulho"
Foi no Grande Hotel do Luso, no mesmo local onde assinou por dois anos com o Aves, que Enzo Zidane concedeu uma entrevista exclusiva a O JOGO. As qualidades, os sonhos e as comparações com o pai estiveram na agenda.
Quem é o Enzo Zidane e como se descreve enquanto jogador?
- Sou jogador de futebol desde sempre, faço o que gosto e estou muito contente por estar no Aves para mostrar quem é o Enzo. Descrevo-me como um jogador de equipa e sou um médio que pode jogar em todas as posições do meio-campo, seja a 6, 8 ou 10. Tento ser tecnicista desde pequeno e gosto muito de ter a bola - procuro tratá-la bem.
Porquê prosseguir a carreira no Aves?
- Porque este é um clube familiar, que me permitiu desde o início ter condições muito boas e que estava encantado por me contratar. Conversámos durante o verão, eu tinha outras possibilidades, mas queria jogar numa I divisão depois de um ano a jogar na II liga espanhola.
O que sabe sobre o clube?
- Sei que é um clube que não é muito grande, mas que está bem estruturado e que ganhou a Taça de Portugal há duas épocas. A equipa tem muitos jovens e aqui aposta-se na juventude.
Falou com algum amigo para se aconselhar sobre o Aves?
- Sim, falei com o Fede Varela, que jogou comigo no Rayo Majadahonda e que representou o FC Porto, e ele falou-me muito bem do clube.
Está ansioso por poder jogar no Estádio da Luz, do Dragão ou de Alvalade?
- Eu quero jogar em todos os estádios, para poder participar em todos os jogos. A verdade é que esses são recintos históricos de Portugal, mas também estou ansioso por jogar no estádio do Aves.
Morar em Vila das Aves, em comparação com Madrid, será muito diferente...
- Sim, disseram-me que é uma vila pequena, mas isso trará experiência de vida e depressa me acostumarei ao estilo de vida.
Só usará Enzo nas costas da camisola?
- Sempre usei apenas Enzo. Tenho orgulho no meu apelido, na minha família, nos meus avós, que são os que nos transmitiram este nome, mas no futebol quero fazer o meu caminho sozinho e que as pessoas me conheçam pelo meu nome.
Mas sente o peso do apelido?
- Não. Já é assim desde que nasci e tenho vivido com isso. Tenho é de ser sério e trabalhar duro. Esta é a vida de um futebolista, cada um tem as suas coisas e eu tenho este apelido que às vezes me ajuda e outras vezes prejudica.
Quando é que o prejudicou?
- Não sei apontar um exemplo específico, mas as pessoas têm tendência para te comparar e criticar mais. Já estou habituado...
Crê que o seu irmão, Luca Zidane, não sente tanto a pressão do nome por ser guarda-redes?
- Bem, é mais fácil compararem-me com o meu pai, já que jogo mais ou menos na mesma posição...
Falou com Zinédine Zidane para decidir o futuro?
- Falamos todos os dias e nada mais. Ajudou-me como um pai ajuda um filho. Disse-me que é bom jogar na I Liga e para aproveitar a oportunidade.
O seu pai acabou, no fundo, por acompanhar, enquanto treinador, a sua formação desportiva no Real Madrid...
- Fui treinado pelo meu pai durante vários anos. No princípio é esquisito, mas depois acostumas-te. Como pai, sempre foi mais duro comigo do que com os demais, mas aprendi muito com ele.
"Jogar num grande? Só penso no Aves..."
Enzo Zidane também não sabe muito sobre a I Liga, mas de uma coisa está certo: o médio prepara-se para jogar numa prova renhida. "Sei que há três clubes que estão sempre na cena europeia [Benfica, FC Porto e Sporting], mas que as restantes equipas são mais ou menos do mesmo nível e os jogos são competitivos", rematou.
O criativo não olha para o Aves como uma rampa de lançamento. "Foco-me no Aves. Toda a gente quer melhorar e depois veremos o futuro", esclareceu, fintando um eventual sonho de jogar num grande com um "só penso no Aves".