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Renan lembra passado e atira: "Sabia o canto de confiança do Fernando Andrade"

Renan foi o herói do Sporting no Jamor e falou a O JOGO Pedro Rocha / Global Imagens

ENTREVISTA (PARTE I) - Quando o avançado do FC Porto partiu para a bola, o guardião, assegura a O JOGO, já tinha em mente o que fazer: "Estudei muito!"

A preparação para a Taça da Liga foi meio caminho andado para o sucesso, ao qual atribui igualmente ao "instinto e explosão" na saída. "Imaginei-me a decidir, concentrei-me no objetivo..."

Renan é um especialista a defender grandes penalidades, derrubou o Braga e o FC Porto da marca dos onze metros até erguer a Taça da Liga em Braga e no passado sábado, no Jamor, voltou a fazê-lo ao segurar a cobrança de Fernando Andrade. A O JOGO, o guardião brasileiro explicou o segredo por detrás do sucesso.

Tem duas taças nas suas mãos, foi decisivo em ambas, frente ao mesmo adversário. É caso para dizer Renan 2, FC Porto 0?

-Estou muito feliz pelas duas conquistas, são dois títulos muito importantes para a minha carreira e para o Sporting. O clube merece, a equipa também, lutámos bastante pelos dois títulos. Entramos em todas as competições para vencer, por isso estamos de parabéns e temos de olhar para a frente. Fomos guerreiros, somos trabalhadores e merecemos...

Mas o Renan foi determinante.

-Sim, sim, fico feliz por ter ajudado. Faço um trabalho sério durante a semana para chegar aos jogos de forma tranquila e poder estar perfeito em todas as ações. Felizmente, consegui ajudar em dois títulos.

Qual o segredo para defender grandes penalidades?

-Trabalho! Trabalho de forma séria, não é fácil acordar muitos dias todo dorido. Mas quando conquistamos títulos como estes vemos que valeu a pena o esforço, abrir mão de muitas coisas para conseguir coisas grandes como estas duas taças.

Para as defender (grandes penalidades) é preciso muito estudo, correto?

-É preciso muito estudo, mesmo muito! Já falei várias vezes que tenho um treinador [Nélson Pereira] que cobra muito, exige muito durante o treino. Ajudou-me muito e contribuiu decisivamente para as duas decisões com o FC Porto nos penáltis. Depois, quando chegamos à hora de tentar defender, é um pouco de instinto, de trabalho, de tudo.

No Jamor, quando Fernando Andrade vai bater a grande penalidade, Nélson Pereira (treinador de guarda-redes) abre os braços como quem diz "já sabes para onde ele vai rematar". Já sabia mesmo para onde ia o remate?

-[risos] Bom, o Nélson [Pereira] é uma pessoa que encontra sempre piada em tudo, é engraçado e está sempre descontraído. Mostrou-me tudo sobre o adversários. Vemos habitualmente muitos vídeos, jogos, falamos bastante sobre o ter ou não instinto. E ele diz-me que me ajuda até onde pode, depois tenho de seguir o meu instinto, a minha intuição, para me divertir. Graças a Deus, diverti-me muito!

Mas sabia?

-Já tinha visto os penáltis dele, tal como de outros, é o movimento do corpo, o olhar, a forma como partem para a bola... Confesso que muitos enganaram, mas o Fernando Andrade... eu sabia qual o canto de confiança dele e segui a minha intuição. Consegui esperar e usar a minha explosão e força para sair no tempo certo na reação à bola. Hoje em dia os jogadores batem muito grandes penalidades. Por exemplo, o Pepe não cobra muito grandes penalidades, mas também tem o seu canto de confiança, o Danilo também. Foi muito intuição e acreditar na força e explosão.

Quanto tempo perdeu a estudar a forma como os jogadores do FC Porto marcavam grandes penalidades?

-Estudei todos os jogos, tinha vindo a fazê-lo, através de vídeos e lendo. Também já tinha estudado os jogadores do FC Porto para a final da Taça da Liga, por isso facilitou. Comecei a olhar ainda mais no início da semana da final [depois do clássico que encerrou o campeonato, no Estádio do Dragão], imaginei como poderia ser. O Luiz Phellype, que falou uma coisa engraçada quando disse que imaginava decidir a final da Taça de Portugal, pois bem eu também. E também consegui! Imaginei, concentrei-me, foquei-me no objetivo, não deixando que nada me afetasse, e conseguimos vencer.

"TAÇA FOI PEDRA NO PASSADO"

Guardião leonino salienta o efeito psicológico no triunfo e os efeitos do mesmo no futuro próximo do clube, "virando a página" de um episódio negro.

Qual foi o momento-chave da final da Taça de Portugal?

-Foi aquele em que sobressaiu a nossa união enquanto grupo, a força do mesmo, depois de ter terminado o prolongamento 2-2, com um golo sofrido a uns quatro segundos do fim, foi isso que veio ao de cima. A força do nosso grupo, uma família, conseguimos reunir, falar uns com os outros dizendo que somos fortes e estávamos preparados para decidir nas grandes penalidades. Sabíamos que nesse momento seria a força do grupo a decidir, assim foi.

Esta conquista da Taça de Portugal foi uma pedra sobre um passado que não deixou as pessoas orgulhosas e cravou marcas em alguns dos atuais colegas?

-Sim, é. Foi lamentável o que se passou, nem vale a pena recordar tudo aquilo que aconteceu, toda a gente viu o que aconteceu [na Academia]. Fico triste pela situação, é uma pena. Tudo o que aconteceu poderia ter atirado um projeto por água abaixo. Por isso digo que conseguimos virar uma página, os jogadores puderam perceber qual é caminho no futuro. O que se viu na Academia não é legal, nem "bacana". Não era futebol. Com a vitória na Taça de Portugal mostrámos às pessoas que aquele não era o caminho a seguir.

Tem a Taça da Liga e Taça de Portugal atrás de si, faltam a nível interno a Supertaça e o Campeonato. Ficam para a próxima época?

-Sim, entramos em todas as competições para sermos vencedores. Fizemos um ano muito bom, agora vamos à procura de um ano perfeito. Sabemos que, depois de um ano como começou e acabou, estamos no caminho certo e na próxima época temos coisas ainda melhores para serem conquistadas.

KEIZER QUER "FUTEBOL MODERNO"

Renan olha para o futebol que o Sporting pratica como sendo moderno, elogiando-o sempre com Marcel Keizer como ator principal. Aliás, o dono das redes verdes e brancas dá conta também das exigências do técnico que chegam ao seu posto, onde a posse de bola também entra. "Sou muito grato a Marcel Keizer e ao Nélson Pereira por estar a jogar. Marcel Keizer é uma pessoa boa, exige muito em termos de trabalho, a equipa pratica um futebol moderno, com muita posse de bola. É preciso ter muita entrega. Conseguiu mostrar qual era o seu objetivo em termos de trabalho e a verdade é que deu certo. Conseguimos duas taças e temos um caminho muito bom pela frente", frisou.

Também a concorrência, entre eles os jovens Luís Maximiano e Diogo Sousa, este dos sub-23, e o veterano Salin merecem um reconhecimento pelo contributo dado ao indiscutível de Alvalade. "São excelentes profissionais, agradeço-lhes pela ajuda que têm dado. Infelizmente, jogamos numa posição em que só pode jogar um, a decisão é sempre do treinador. Tentamos dar o nosso melhor no treino para estarmos bem. Se o Max está bem, eu estou bem, se o Salin está bem, eu também e vice-versa", afiançou.

Rui Miguel Gomes (entrevista)/João Vieira (edição de vídeo)