Opinião

Sporting e FC Porto são orgulho do andebol português

Um texto de opinião de Paulo Faria, antigo internacional português de andebol e treinador.

Tivemos um fim de semana que encheu de orgulho o andebol português, com as participações fantásticas de Sporting e FC Porto nas competições da Federação Europeia de Andebol (EHF). Começando pelo Sporting, quem, como eu, teve a sorte de estar no Pavilhão João Rocha a assistir ao vivo a esta fantástica partida, sentiu mesmo um orgulho enorme no andebol nacional.


Um Sporting que se apresentou muito limitado e, sem Carlos Ruesga, Pedro Solha, Bosko e Skok, e com Carol quase exclusivamente em ações defensivas, não seria fácil imaginar que, com Edmilson Araújo e Carlos Carneiro (soberbos), e Cláudio Pedroso a regressar de uma lesão prolongada, poderia jogar de igual para igual com um Veszprém que, além de ter um orçamento, no mínimo, quatro vezes superior, foi nos últimos cinco anos considerada uma das quatro melhores equipas do mundo.


Hugo Canela tem conseguido criar um grupo homogéneo, em que qualquer jogador pode atuar de início, com o rendimento a não variar substancialmente. O treinador tem conseguido responder de uma forma quase silenciosa a todos aqueles que, eu incluído, desconfiavam do seu valor. Não tenho dúvida que Hugo Canela é hoje melhor treinador, mais experiente, mais seguro.


O Sporting apresentou na defesa o seu 6:0 habitual, com quatro jogadores na zona central (Frade, Carol, Valdés e Edmilson), que quando atuam em simultâneo, como foi o caso, tornam-no efetivamente muito forte. Todos os treinadores deviam analisar a diferença dos dois sistemas defensivos do Sporting e do FC Porto, que apesar de serem os dois 6:0, nada têm em comum. É que Carol e Valdés, tornam o 6:0 leonino único.


No Ataque, Carlos Carneiro, que parece um jovem jogador altamente motivado, foi brilhante, e Luís Frade, apesar dos seus 21 anos, apresenta-se com um rendimento e uma maturidade, que fazem dele, juntamente com Tiago Rocha, um dos dois melhores pivôs portugueses.
O Sporting não venceu a partida, mas convenceu todos - até David Davis, treinador adversário - que está num processo evolutivo e de afirmação, não só em Portugal como também na Europa.


Em relação ao FC Porto, a minha abordagem é feita na perspetiva do treinador Magnus Andersson e nas três fases por que tem passado a sua equipa.
Quando a época começa (1.ª fase), o trabalho de todos os treinadores, e em especial quando é estrangeiro, é tentar muito rapidamente avaliar e perspetivar o rendimento de cada jogador e as possibilidades de otimizar a equipa. Poucos diziam no início de época que o FC Porto seria, a par do Sporting, um dos principais candidatos ao titulo, recordando que esse favoritismo era atribuído aos leões e ao Benfica.


Magnus Andersson, de uma forma brilhante, conseguiu muito rapidamente perceber que a equipa precisava de qualidade de treino e de aumentar a confiança, porque individualmente o seu plantel é muito rico. Começou a 2ª fase, com a utilização massiva do sistema 7x6 que resultou em pleno, o qual permitiu ao FC Porto afirmar-se enquanto equipa, vencendo quase todos os jogos e, ao mesmo tempo, fazer os seus jogadores crescerem e ganharem confiança.


E aqui é que se vê um treinador a trabalhar a curto, médio e longo prazo ao mesmo tempo, uma vez que quando todos pensavam que Magnus Andersson se ia ficar por aqui, este, sabendo que os seus jogadores estavam a perder qualidade no jogo 6x6, e sabendo melhor do que ninguém que para ser campeão terá obrigatoriamente de ser muito forte no 6x6, começou a utilizá-lo com Sporting, Benfica e... Cuenca. Com o apuramento já conseguido para os quartos-de-final da EHF, jogou os 60 minutos com os espanhóis sem utilizar o 7x6, dando seguimento a aquilo a que chamo 3ª fase.


Tenho muita pena que na próxima época não possamos ter estas duas equipas ao mesmo tempo na Liga dos Campeões. Hugo Canela e Magnus Andersson, pelo que têm feito, mereciam lá estar.

Redação