Andebol

Fermentões vive aventura na I Divisão Nacional de andebol

. Miguel Pereira/Global Imagens

Clube teve origem no Centro Cultural e Desportivo dos trabalhadores de uma fábrica e é uma valência de uma instituição de solidariedade da freguesia de Fermentões, Guimarães

Foi do Centro Cultural e Desportivo (CCD) dos trabalhadores da Campeão Português - fábrica de calçado - que surgiu o Fermentões, clube que este ano está de regresso ao escalão maior do andebol e do qual saíram jogadores como Carlos Ferreira, atual treinador adjunto do ABC, e Tiago Pereira, que está a jogar em França. E foi também lá que os gémeos Domingos e Dionísio Castro começaram a carreira no atletismo.

Corria o ano de 1977 e Manuel Novais Ferreira, funcionário da Campeão Português, criou o referido CCD, tendo a equipa de andebol ganho, em 1977/78, o Campeonato Regional de Braga. Não havendo acordo relativamente à integração de atletas não trabalhadores da fábrica, Novais Ferreira propôs a ida desses jogadores para Fermentões, assim surgindo a modalidade na Casa do Povo daquela freguesia de Guimarães.

O clube chegou à ​​​​​​​I Divisão em 1981/82, manteve-se na época seguinte e depois desceu, regressando este ano. "Do ponto de vista desportivo, isto é uma grande aventura. Percebemos claramente as limitações das condições desportivas que temos e e também do ponto de vista financeiro. Mas, há aventuras que valem a pena e, quando encarámos este desafio, que não estava planeado, chegámos à conclusão de que a equipa que tinha promovido essa subida merecia estar nesta montra do andebol nacional", diz José Fernandes, presidente do Fermentões, e garante: "Esta é uma aventura que estamos a percorrer em consciência". De resto, Fernandes nem se importa com eventuais consequências inerentes a alguma fragilidade de quem se vê rodeado de adversários mais experientes. Essa é, para o Fermentões, uma das regras do jogo. "Corremos o risco de ser o bombo da festa e de ser uma equipa de treino para as outras equipas, mas isso às vezes até na Liga dos Campeões acontece", admite, deixando, no entanto, algo muito claro: "Podemos perder o jogo, mas temos de vencer enquanto equipa. O que não podemos perder é a dignidade." Ex-jogador, muito experiente, mas ainda com poucos anos de treinador de equipas seniores, José Vieira, que foi quem conduziu a equipa a esta aventura, concorda com o presidente: "No discurso que tive antes do jogo com o FC Porto, disse-lhes que não havia dúvidas de que o adversário era muito melhor e que eles não eram do nosso campeonato, no entanto, disse-lhes também que nós temos o campeonato da dignidade, do compromisso e da raça. O que é pedido aos jogadores é que respeitem a camisola e eles mesmos."

"Na I Divisão é muito mais tudo", diz treinador José Vieira

José Vieira, treinador do Fermentões, não está surpreendido com a carreira que a equipa está a fazer na I Divisão. "Sinceramente, está dentro das expectativas que eu tinha. Até hoje, foi uma espécie de primeira fase para percebermos como isto é", atira, e explica: "Na I Divisão é tudo muito mais rápido, muito mais intenso, muito mais forte, muito mais alto, muito mais peso, é muito mais tudo do que aquilo que estávamos habituados." A seguir, refere que "o Fermentões só não tem mais uma ou outra vitória por falta de experiência", mas não só. "Tivemos azar, porque o Caniço, que está magoado, faz muita falta. Também havia alguma expectativa em relação ao Paulo Silva, mas não conseguiu conciliar as coisas", explica. Seja como for, José Vieira, de 45 anos, acredita que vão "ficar na I Divisão".

Sobrinho de Carlos Ferreira joga e já é treinador

José Carlos Ferreira, sobrinho de Carlos Ferreira, é um dos jogadores do plantel às ordens de José Vieira. Filho de uma irmã do antigo guarda-redes, é também treinador dos iniciados do Fermentões. "Isso só serve para percebermos que estamos velhos [risos]. Quando se começa a treinar filhos e sobrinhos dos nossos colegas e assim", diz José Vieira. "Vive e respira andebol, percebe de andebol. Podemos estar desde já perante um grande treinador", avalia.