Sérgio Conceição demorou um ano a voltar a confiar a sério no espanhol e fez do mexicano decisivo. Ganho de agressividade nos duelos e menos perdas de bola foram critérios decisivos. Mas há mais...
Sem nomes de vulto entre os reforços contratados (Militão e Mbemba terão sido a exceção, mais pelo preço do que pela projeção internacional), Sérgio Conceição definiu bem cedo - ainda em julho - que as principais mais-valias da equipa em 2018/19 deveriam ser aqueles jogadores do plantel anterior cujo talento há muito foi detetado, mas que o rendimento ia tardando em confirmar. De forma mais específica, o treinador exigiu que Otávio, Corona e Óliver fossem aquilo que nunca foram na época passada: verdadeiros desequilibradores e jogadores importantes para a equipa. Três meses depois do repto, a que O JOGO até deu capa, os reforços internos começam, finalmente, a aparecer de forma regular. Especialmente Óliver e Corona, pois Otávio começou a época a titular e nunca perdeu o lugar até se lesionar. Outubro foi o mês de Óliver e de Tecatico. Nos últimos quatro jogos (uma série de vitórias única nesta época), os dois marcaram posição e cumpriram finalmente o plano do treinador. Mas, afinal, o que mudou desde a utilização intermitente em 2017/18 até ao destaque que agora assumem? Essencialmente a intensidade que metem nos duelos e que Conceição os obrigou a ganhar e que se traduzem, de forma mais palpável, em menos perdas de bola e mais recuperações. Mas há mais.
O treinador sempre privilegiou um futebol de impacto físico nos adversários. Óliver e Corona, por serem mais baixos e menos robustos, teriam sempre de se ajustar a essa mecânica e isso leva algum tempo. Para além disso, precisavam de uma oportunidade, que alguns jogos menos bons no início da temporada acabaram por precipitar.
Nos últimos quatro jogos, os dois têm números impressionantes e que já vão de acordo ao que Conceição lhes pediu. Óliver, por exemplo, ganhou 50% dos duelos de cabeça, contra os 20% da época passada. E nos duelos totais passou de 40% para 46% o que lhe garante menos três perdas de bola por jogo e, simultaneamente, mais ações no jogo do que as que tinha no passado. Os colegas procuram-no agora 45 vezes em cada 90 minutos, mais oito do que em 2017/18. Não era só isto, contudo, que Sérgio queria de Óliver. A segunda parte ainda não está completamente conseguida. Sérgio, sabe O JOGO, quer mais golo do jogador, exige mais presença na área e mais desequilíbrios. O médio tem procurado fazê-lo e perdeu a vergonha: duplicou o número de remates, subiu de dois para cinco dribles por jogos, melhorou a definição e já assistiu tantas vezes esta época (três) como em toda a transata. Continua é a faltar o golo.
Corona está mais próximo do potencial máximo, também porque a um extremo se pede menos. Conceição pediu-lhe que abusasse do drible numa primeira instância, mas que não se perdesse neles na mesma jogada. As três assistências nos últimos três jogos são o exemplo perfeito disso mesmo: um drible, ameaça de segundo e cruzamento para golo. De quase nove tentativas de fintas a cada 90 minutos, Corona baixou para menos de sete. As duas tentativas a menos são o número de bolas perdidas que também baixou, a contento de Conceição, que ainda assim quer mais. Nos duelos também melhorou imenso: ganha 28% deles, agora vence em 43% das ocasiões. É por ter melhorado tanto que agora joga muito mais. Juntamente com Óliver cumpre a promessa de início de época. Otávio já tinha ganho a aposta, não tanto pela subida dos números ou porque mudou, mas essencialmente porque ganhou regularidade e consegue ser útil à esquerda, no meio ou na direita.
Regressos começam a justificar a aposta
Sem dinheiro para ir às compras, no defeso de 2017, o FC Porto apostou no regresso de vários jogadores que tinha emprestado a clubes estrangeiros e deu-se bem. A fórmula resultou quase em pleno: Marega, Aboubakar e Ricardo foram titulares absolutos e decisivos para a conquista do campeonato. Diego Reyes também voltou a casa para fazer 24 jogos e só mesmo o resgate de Gonçalo Paciência, em janeiro, não deu tantos frutos. Todos juntos foram responsáveis por 54 golos do FC Porto, praticamente metade dos que a equipa marcou em 52 jogos.
Esta época, sem surpresas, Sérgio Conceição voltou a recorrer a jogadores com quem o clube tem contrato para reforçar o plantel, apostando em Chidozie, Adrián López e André Pereira para juntar aos reforços contratados.
Os resultados ainda estão longe dos que se viram em 17/18 - até porque nenhum é habitualmente titular - mas já se começam a ver. Chidozie estreou-se finalmente em partidas oficiais, mas também é verdade que dificilmente terá muitas oportunidades se não houver lesões ou castigos.
Já os dois avançados estão a contribuir para produção ofensiva. O espanhol tem quatro golos - todos marcados ao Vila Real, na Taça de Portugal - e uma assistência para um golo a meias entre Soares e Payne na receção ao Varzim. Depois de tantas críticas e épocas a zero, o ex-Atlético de Madrid está, finalmente, a mostrar serviço. Isto no último ano de contrato...
Quanto ao jovem português, que recentemente prolongou a ligação aos dragões até 2021, já vai em três golos e uma assistência para Brahimi contra o V. Guimarães. E sem Aboubakar continuará a jogar...