Villas-Boas: "Que daqui a alguns anos, na cadeira de sonho que ocupo, se sente uma mulher portista"
Declarações do presidente do FC Porto, no discurso que abriu um evento sobre integridade no desporto e o papel de liderança da mulher, no Estádio do Dragão
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André Villas-Boas, presidente do FC Porto, falou esta quarta-feira sobre o papel da mulher, no discurso de abertura do Fórum da Aliança Global para a Integridade no Desporto (SIGA), realizado no Estádio do Dragão. O líder máximo do emblema azul e branco expressou a vontade de ver uma mulher na "cadeira de sonho" que ocupa, "daqui a alguns anos".
"É com enorme satisfação que recebemos este evento na nossa casa. Sintam a alegria que temos ao receber a SIGA, no contexto de uma discussão tão relevante para nós, que é o papel da mulher no Mundo, nas diversas atividades e também no Desporto. O compromisso do FC Porto é participar na reflexão, partilhar exemplos, aprender e reforçar as nossas competências e melhorar as áreas onde já intervimos", começou por dizer.
"Nas nossas áreas dirigentes e profissionais, fazemos o caminho para a paridade: 47 por cento dos quadros no Grupo FC Porto são mulheres, verificando-se um tratamento indiferenciado dos trabalhadores independentemente do género. No nosso código de ética, a igualdade e não descriminação são publicamente assumidas", continuou, concluindo de seguida:
O que disse André Villas-Boas
Papel da mulher alvo de reflexão no Dragão: “É com enorme satisfação que recebemos este evento na nossa casa e espero que vocês sintam a alegria que é receber-vos num contexto de uma discussão esclarecida sobre um tema tão relevante para nós como o é o papel fundamental da mulher no mundo, no dia a dia, na sociedade e nas diferentes áreas de negócio, do comércio à saúde, da política ao desporto.”
O compromisso do FC Porto: “O compromisso do FC Porto, para além de ser o anfitrião deste fórum, é estar aqui para participar na reflexão, partilhar o seu exemplo, mas sobretudo aprender e reforçar as nossas competências e melhorar nas áreas onde já intervimos. Áreas essas, nomeadamente a desportiva, onde o campo de divulgação é enorme e onde impera sobre nós um sentido de responsabilidade e de dever.”
Rumo à paridade: “Deixo alguns números e informações que nos servem de exemplo e sobre os quais reflito. Eles implicam ainda mais responsabilidade, alimentam o nosso sentido de compromisso, animam-nos e são prova do benefício de trazer a liderança feminina para o seio da vida do clube. Nas modalidades, apenas 17% dos nossos atletas são do sexo feminino, um quadro de défice que estamos empenhados em corrigir, desde logo através da aposta em escalões de formação nas modalidades já existentes ou da introdução e do regresso de novas modalidades, que estão a ser estudadas com o compromisso de garantir maior equidade entre os géneros.”
O grande passo do futebol feminino: “Já esta época, e de uma vez só, corrigimos anos de atraso nesse posicionamento, constituindo três novos escalões de futebol feminino (sub-17, sub-19 e seniores). Desse movimento resultou a entrada de mais de 60 novas atletas no FC Porto, traduzido numa alegria e emoção contagiante e comovente, como aquela que sentimos ao bater o recorde de assistência num jogo de futebol feminino em Portugal, onde estiveram presentes mais de 31 mil pessoas. Sabemos a responsabilidade interna e externa que implica ter dado este passo e estamos a fazê-lo de forma sustentável. Responsabilidade interna porque os nossos sócios o exigiam e, quando exigem, exigem também um projeto ganhador. Responsabilidade externa porque, para além da lógica das realidades clubísticas naturais, somos uma instituição-bandeira que tem responsabilidades sociais e de cidadania corporativa perante a comunidade e a sociedade nos campos educativos e desportivos, nacional e internacionalmente.”
O exemplo: “Deslocando-nos para a análise das áreas dirigente e profissionais, observamos que o caminho para a paridade tem também uma expressão que merece ser referida: 47% dos quadros do Grupo FC Porto são mulheres. O Grupo FC Porto preconiza e mantém uma política de recursos humanos indistinta entre homens e mulheres, inteiramente respeitadora do princípio de tratamento igual e indiferenciado dos seus trabalhadores, independente do género. Também nas normas de ética e conduta presentes no nosso código de ética, a igualdade de tratamento e a política de não descriminação são publicamente assumidas. Este compromisso, assumido também ao nível da gestão de topo, revela uma preocupação formal com estas questões.”
Do dirigismo aos associados: “Ao nível do dirigismo, os passos também têm sido firmes, desde o compromisso assumido desde a campanha até à nossa eleição. Temos orgulho em dizer-vos que o Conselho Superior do FC Porto é composto por mulheres e homens em paridade. Isso tem tido um efeito extraordinário na aproximação ao universo de sócios e estamos esperançosos de que este passo sirva de exemplo para cativar ainda mais adeptas a tornarem-se associadas com o objetivo de transformar os atuais 35% de associadas femininas do FC Porto em paridade com os associados masculinos.”
O desejo de ter uma mulher como sucessora: “Fecho esta intervenção com a formulação de um desejo: que daqui a alguns anos, na cadeira de sonho que hoje ocupo, se sente uma mulher portista que aqui estará honrando o nosso compromisso com a vitória e elevando o estatuto do FC Porto enquanto clube dos clubes.”