Artur Jorge, o sonho de voltar ao Brasil e a saída: "Era o oitavo na lista dos mais bem pagos..."
Treinador passou a carreira em revista em entrevista no Brasil
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Em entrevista ao Abre Aspas, do Globo Esporte, Artur Jorge passou a carreira em revista, falando da sua saída do Botafogo, do facto de apesar de ter ganho tudo nos brasileiros ser apenas o oitavo mais bem pago do Brasileirão, e da intenção de voltar ao Brasil.
O início da carreira em Braga: "Sou um orgulhoso bracarense. E a minha carreira como jogador começou exatamente no Braga, que é o maior clube da região, fica na minha cidade. A minha paixão pelo Braga é desde muito novo, quando eu acompanhava os jogos com os meus pais, até ter a oportunidade de poder fazer os testes de captação, ficar no clube e fazer parte da equipa na base. Quando comecei essa formação no Braga, o meu objetivo era grande: poder chegar à equipe principal e jogar na primeira divisão. E aconteceu. Depois de passar por todas as categorias, alcancei o patamar mais alto. E rapidamente consegui impor-me também e tornei-me capitão de equipe muito novo, com 23 anos. Foi o meu primeiro ano como capitão do Braga, e assim fiquei até o final da minha carreira. Eu quero acreditar que esse processo de liderança, que mistura resiliência e competência para atingir o patamar mais alto, agregado àquilo que é a liderança de um grupo de trabalho como capitão, deram-me também valências para poder hoje ser o treinador que sou, dentro desses meus princípios também que mantenho e outros que fui acrescentando para uma nova posição."
A carreira de treinador: "Eu não pensava seguir a carreira de treinador de futebol, mas fui-me preparando, confesso. Preventivamente, ainda quando jogava, também fiz os cursos de treinador para poder ter um plano B. Ou seja, sempre fui muito de planear, de estar organizado e de ter as coisas sob o meu controle. Para mim, (o controle) é muito importante. A carreira de jogador termina muito cedo para todos nós. Disse isso aos meus jogadores no Botafogo, no Braga... Nós temos um ciclo de vida contrário àquilo que é a vida normal de um cidadão. Tudo nos aparece muito novo. A fama, o dinheiro, o protagonismo... Da mesma forma, tudo também nos desaparece muito rapidamente. "
Salto para o Brasil: "O que me fez mudar foi o desafio. O meu grande sonho sempre foi treinar o Braga na Primeira Liga. E eu tive um ciclo extraordinário, consegui juntar não só o meu sonho de treinar o clube, mas também de fazer isso nas três principais competições europeias: a Conference League, a Liga Europa e a Champions League. De conseguir superar todos os registos que tivemos no Braga e conquistar um título (Taça da Liga 2023/2024). Naquele momento senti que estava preparado, de uma forma até mais emocional, para agarrar um projeto que aparecesse e fosse atrativo. E acho que não tinha melhor proposta do que a que tive, sobretudo passados os meses em que vejo o resultado. O Botafogo era um clube que eu conhecia também já de Portugal, porque nós acompanhámos muito o futebol brasileiro. O Botafogo é um clube histórico, de dimensão e grandeza enormes, mas que não era, naquele momento, a marca mais forte do Brasil. Não estava no topo das três marcas mais fortes do Brasil. E esse desafio, para mim, também era atraente. Pensar que eu conseguiria a partir dali, caso fosse competente e conseguisse atingir os objetivos que eu também tinha criado para mim, fazer com que esse Botafogo voltasse a ser o Botafogo de tempos gloriosos. Conseguir fazê-lo mais e melhor."
A saída do Botafogo: "Tive abordagens do Al-Rayyan desde outubro, em que me procuraram para poder abraçar o projeto naquele momento. E nunca, nunca (levei à frente), de forma alguma, inclusive não dando margem para que houvesse qualquer tipo de conversas comigo, porque eu estava 100% focado na conquista dos títulos com o Botafogo. Para mim, era a prioridade. Era sempre a minha grande prioridade poder terminar o campeonato vencedor, ganhador, fazer com que esta gente pudesse ter um momento de euforia, de satisfação pessoal ganhando títulos. Assinei, em janeiro de 2025 pelo Al-Rayyan. Depois de perceber que o meu projeto de Botafogo tinha terminado ali, naquele momento."
Relação com Textor e o salário: "Eu não gosto muito de falar sobre o tema. Nós temos que reconhecer que o Textor, primeiro, é o grande responsável por ter-me trazido para o Botafogo. É uma pessoa a quem estou eternamente grato pela oportunidade que me deu de treinar o Botafogo. É de fato um gestor que fez (o clube) crescer e lutar por objetivos maiores. É uma pessoa de importância muito grande para o clube. Não posso, nem sou, ingrato pelo que quer que seja. Agora, a valorização... Dos técnicos, eu estaria na oitava posição (na lista) dos mais bem pagos do Brasileirão de 2024. Acho que o meu trabalho foi merecedor de ser considerado (mais valioso), aquilo que foi o trabalho desenvolvido. E isso é mostrando competência, que depois é ou pode ser reconhecida."
Voltar ao Brasil: "Vejo-me a voltar, e faz parte do meu projeto de carreira poder voltar ao Brasil. Confesso que já tive a oportunidade. Neste curto espaço de tempo que estou fora, já fui convidado para voltar ao Brasil. Mas dentro daquilo que acabei de dizer, de um projeto que eu quero que seja ganhador, tenho a proposta para poder ganhar no Al-Rayyan, e quero vencer lá. É um clube que já não ganha há algum tempo, e quero tentar começar uma temporada desde o início. Mas, sim, faz parte do meu projeto voltar ao Brasil. Exatamente pela competitividade que o campeonato me oferece, e também pelo que eu considero que é um campeonato preenchido com boas equipes, com jogadores extraordinários e com todos os clubes muito fortes."
As referências: "É o José Mourinho. Temos grandes treinadores portugueses, sem dúvida. (Mas é) o Mourinho porque foi um treinador que acabou abrindo portas internacionalmente para Portugal. Tem uma liderança que eu aprecio muito. É uma pessoa extremamente séria, e de uma abordagem justa para com aquilo que é o clube que defende e os seus jogadores. Eu identifico-me muito com isso. Vejo-me muito nesse perfil de um homem, de um treinador que é um ganhador nato. E uma referência para todos nós, obrigatória, daquilo que ele já conquistou."