"Temos de estar preparados para o pós-Ronaldo e demos passos nesse sentido"
Declarações de Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, em entrevista a O JOGO
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Assinou acordos com parceiros como o BPI e a MEO até 2030. Não teme que acordos com esta dimensão temporal possam gerar acusações de limitar as opções de um eventual sucessor numa altura em que entra para o último ano de mandato?
-Não vejo a questão sob esse prisma. Aquilo a que assisto de forma generalizada é a dificuldade de captar apoios e parcerias comerciais, mesmo noutras áreas de atividade. As empresas de comunicação, por exemplo, têm de lidar com quebras brutais das receitas publicitárias. Ora, numa tendência de mercado que é de contração, aquilo que vejo é uma preocupação muito grande de acautelar a sustentabilidade financeira da Federação a médio e longo prazo. Temos o caso da Sagres que mantém uma relação connosco de 30 anos, o da Altice que é de 25 anos, o caso da Galp, do Continente ou do BPI e dos hospitais CUF. Aquilo que estamos a garantir é que até 2030 a Federação não terá problemas do ponto de vista da sustentabilidade financeira.
Fazia-se ligação entre o sucesso comercial da FPF e a projeção de Cristiano Ronaldo. Nesta fase, sente que a marca Portugal já vai para além da dimensão do Cristiano?
-O Cristiano é uma marca poderosíssima, com 600 milhões de seguidores no Instagram. Não podemos nem queremos ignorar essa realidade. Quando chegámos cá sabíamos dessa ligação entre o Cristiano e a FPF e queríamos que ele ficasse pelo menos até 2018. Objetivamente, o que começámos a delinear desde essa altura é que teria de haver um pós-Cristiano Ronaldo. Entretanto já jogou mais um Mundial e vai jogar o próximo Europeu. Ele ainda cá está, mas a transição já começou a ser preparada há muito tempo. Em todos os acordos que mencionei antes, nenhum parceiro colocou como condição a continuidade do Cristiano. Enquanto Federação temos de estar preparados para o pós-Cristiano, e desde 2018 demos passos nesse sentido. De resto, a única certeza que tenho neste momento é que o Cristiano só deixará a Seleção depois de eu deixar a Federação. Aliás, se continuar com a força, a pujança e a ambição que tem demonstrado, imagino que ele continue muitos mais anos.