Obra que Pinto da Costa quer ver nascer na Maia já arrancou. Financiamento de um fundo permite ao FC Porto ser o dono. Terraplanagem já começou e terá custo de 6,9 milhões de euros. Contrato-promessa com a empresa ABB garante aquisição dos terrenos privados se a hasta pública for bem sucedida.
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A um mês das eleições do FC Porto, Pinto da Costa cumpriu o sonho de apresentar a Academia do clube, que pretende ver nascer na Maia. As máquinas já estão a trabalhar na terraplanagem dos terrenos privados que a empresa ABB adquiriu e que posteriormente irá vender ao FC Porto. O custo total da empreitada está estimado em cerca de 40 milhões de euros e esta será paga em seis anos pela SAD portista através de um financiamento que, sabe O JOGO, provém de um fundo de investimento.
Para a obra avançar a toda a velocidade ainda falta adquirir, em hasta pública, a parcela de 140 625 m² que pertence à autarquia maiata, mas a confiança é total. “Não me parece que haja alguém que só para prejudicar o FC Porto queira ir licitar um terreno onde apenas se pode construir uma infraestrutura desportiva”, afirmou Fernando Gomes, administrador financeiro da SAD portista.
O projeto ontem apresentado é da responsabilidade da empresa “Risco”, do arquiteto Manuel Salgado, que garantiu não existirem impedimentos burocráticos. “Para este estudo foi necessário analisar todos os condicionamentos para o desenvolver. Os planos regionais e locais foram ponderados, mas também os condicionamentos que resultam das várias infraestruturas que existem e departamentos estatais. Nomeadamente, os condicionamentos impostos pela rede viária, afastamentos mínimos que têm de ser respeitados e impactos que atividades que se desenvolvam na periferia podem ter na circulação. No caso da academia, os problemas de encandeamentos, o risco de bolas que se percam e possam cair e afetar a circulação. É uma espécie de check-list que foi considerada no estudo e no projeto da academia”, explicou, apontando ainda que a academia terá dois acessos, a norte para os serviços e a sul, o principal, através do nó “Millenium” que será construído na A41.
O recinto terá 21,5 hectares, mas a unidade de execução é de 24 hectares, para permitir delimitar e, ainda, ceder algumas áreas ao parque metropolitano. Haverá um conjunto de quatro campos - um deles o mini-estádio com capacidade para duas mil pessoas - na zona sul dedicados a competições oficiais e que podem ser utilizados sem interferir com as atividades da formação, nos seis outros campos, mais a norte. É aí que será erguido o edifício principal com quatro pisos, onde ficará a nova Casa do Dragão e o centro de formação com 72 quartos duplos. Terá, ainda, um auditório, cantina para cerca de 500 refeições diárias e cozinha. No piso térreo, haverá uma piscina, gabinetes de fisioterapia, médicos, ginásio e áreas de apoio logístico.
Quanto a custos, Manuel Salgado explicou que, neste momento “há um valor fixo que diz respeito aos movimentos de terra de 6,9 M€”. Em relação aos edifícios, o projeto de execução com todos os pormenores ainda não está fechado mas a estimativa é que “ande à volta dos 40 M€” para os 21 mil metros quadrados de construção.
Financiamento garantido e um contrato-promessa
Fernando Gomes explicou, depois, todo o processo. “ Há anos que o FC Porto procura um projeto em condições de servir as suas ambições na formação. A Maia entendeu a importância económica, de imagem e social deste projeto. Era preciso passar à realização prática e isto não se faz de um dia para o outro. Não é por dizer que vou fazer uma academia do outro lado do rio Douro que as coisas acontecem. Seria lamentável frustrar as expectativas dos portistas, negligenciar a atividade económica e financeira do FC Porto porque está muito dinheiro investido”, referiu, agradecendo a colaboração de Gaspar Borges.
“Estão emparcelados 9,3 hectares que são propriedade da ABB. Se o FC Porto, como entidade, fosse para o terreno falar com os proprietários para negociar teriam custado o dobro ou mais”.
E para esses terrenos um contrato-promessa de compra e venda condicionado à hasta pública. “Queremos garantir que sendo nós proprietários dos 14 hectares da Câmara, estes 9,3 privados também são nossos”, atirou. E quem vai pagar? O FC Porto, garantiu Fernando Gomes, negando uma mudança de estratégia. “Em novembro, disse que o FC Porto teria uma negociação a fazer com o proprietário e construtor no sentido de haver uma renda resolúvel. Seria a forma de conseguir o financiamento. Só que entretanto, felizmente, para nós, conseguiu-se um financiamento e hoje a academia do FC Porto tem um financiamento que vai permitir pagar, mensalmente, a tempo e horas”, frisou, afastando a ideia de esta ser uma medida eleitoral.
“As coisas têm de começar. Porque haveria de ser no dia 28 de abril se estão prontas para começar já? Íamos pedir ao construtor para aguentar um bocadinho porque há gente que não gosta?”.
Capacidade para quatro jogos em simultâneo
A academia terá dez campos com dimensões oficiais, todos com iluminação e mais umcampo de futebol de 7. O mini-estádio vai corresponder às exigências dos regulamentos da II Liga e terá capacidade para dois mil espectadores (200 deles visitantes). Haverá mais três bancadas em outros três campos com lotação para 400 pessoas que permite que funcionem como pequenos estádios. Serão cerca de 300 os lugares de estacionamento.
Data para a escritura “é irrelevante”
Fernando Gomes admitiu que a escritura dos terrenos pode acontecer ainda em abril, mas desvalorizou a data. “É irrelevante. A partir do momento em que é feita a adjudicação por parte da Câmara da Maia os títulos de propriedade estão constituídos e, depois, a escritura é um mero formalismo. Até porque nessa altura o licitante tem de entregar um cheque de 20 por cento do valor da adjudicação e fica automaticamente validado”, explicou.
“Tudo por escrito para não haver desvios”
“Obrigado por terem assistido à descrição desta maravilhosa utopia e maravilhoso chorrilho de mentiras”. Foi desta forma, ao ataque e com ironia, que Pinto da Costa começou a sua intervenção após a apresentação da Academia, “um sonho de muitos anos e uma promessa de há quatro”, que considera ser “um trunfo do FC Porto para o futuro” e não uma cartada eleitoral. O líder portista agradeceu em particular ao arquiteto Manuel Salgado pelo projeto e a Gaspar Borges, da empresa ABB, que será responsável pela construção das infraestruturas. “Quando precisámos de alguém que colaborasse connosco ele colocou-se à disposição de alma e coração. Até há três semanas sempre tratámos tudo de boca como fazem os homens de palavra. Depois, tivemos de traduzir para o papel tudo o que combinámos porque apareceu alguém a dizer que os contratos se rasgam e perante esse perigo tivemos que pôr por escrito, com toda a segurança, para não haver desvios nem atrasos neste projeto”, frisou.
Pinto da Costa considerou “absurdo e inacreditável” a sugestão de interromper o processo até às eleições. “Então, em janeiro, quando já se sabia que havia duas candidaturas, não podíamos contratar o Otávio ou renovado com o Galeno porque quem viesse podia não gostar do Galeno. A vida do FC Porto não pára, tem de ser levada a sério, com paixão”, atirou, puxando depois dos “galões” para criticar o seu principal opositor nas eleições. “Temos assistido a uma campanha que se diz mal de tudo, está tudo mal. Há quatro/cinco meses ia ser o presidente dos presidentes, deixava um legado fantástico, tinha feito uma obra de referência até ao dia em que resolvi candidatar-me. A partir daí está tudo mal. Querem transformar o FC Porto, em vez do melhor projeto de Portugal num clube que compra uns canteiros do lado de lá do rio onde não podia ser feito nem metade disto. Continuo com a mesma vontade de há 42 anos, com a mesma paixão de servir e pôr o FC Porto a ganhar. Para mim, 2566 títulos é pouco, temos de ganhar cada vez mais e para isso é fundamental este projeto”, concluiu.