João Neves, as recordações no Benfica e a camisola por dentro: "Regra imposta..."
Declarações de João Neves, agora jogador do PSG, em entrevista de despedida, aos meios de comunicação oficiais do Benfica
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Estreia (em Braga, dezembro de 2022): "Claro que não estava à espera. Acho que ninguém estava à espera. É verdade, há males que vêm por bem. O Mundial a meio de uma época não é costume. O míster, lembro-me que falou comigo, gostou de mim e continuou a perguntar ao míster Luís Castro, na altura da Equipa B, se eu podia continuar a ir lá treinar. Fui ficando, fui ficando... Desde o primeiro jogo em que fui convocado até ao último, nunca saí da convocatória. Claro que eu não estava à espera, foi uma progressão muito, muito acentuada, mas também fruto daquilo que eu fiz, e de que eu me orgulho, de que a minha família se orgulha e de que a Família Benfiquista se orgulha."
Dia em que soube que ia treinar à equipa principal: "Nunca tinha ido quando era mais jovem mesmo se faltavam jogadores. Esse foi o meu primeiro. Senti um bocado de ansiedade pelo que estava à minha espera lá, no campo. Olhava já para os jogadores da Equipa A com olhos diferentes. Jogadores que tinham estatuto no Clube, tal como o André Almeida. Sentia-me ansioso. Não que duvidasse das minhas capacidades, mas porque era com esse tipo de jogadores que eu treinava. É o não ficar mal, é o tentar manter o nível do treino, e isso tudo faz com que fique ansioso... e que não fique tranquilo com o jogo. Mas, no fundo, o André, em específico, acalmou-me. Lembro-me, disse-me para eu só jogar, fazer o meu jogo, e que ele também tinha acompanhado a Formação, e que sabia o jogador que eu sou. Tentou-me tranquilizar para ficar mais calmo e fazer o treino como deve ser."
Emoções da subida ao plantel da equipa A: "Ainda levou um bocado até me equipar no balneário da Equipa A, mas todos os dias... não era uma aflição, mas era aqui um nervosismo interior. Mesmo ainda no final, em todos os jogos do Benfica, eu ainda sinto um bocado de nervosismo. Não é pelo jogo em si. Com todo o respeito, não é por ser contra o Arouca, ou contra o FC Porto, ou contra o Sporting, seja com quem for. É aquele nervosismo por estar a jogar pelo Benfica e não querer que corra mal, porque eu realmente preocupo-me. E acho que todos os jogadores de futebol sabem qual é esse nervosismo de que eu estou a falar, e mesmo agora eu tenho esse nervosismo. Depois, passados uns meses, lembro-me que – acho que foi o Javi [García] – me chamaram ao gabinete. Eu estava um bocado assustado, porque não gosto muito de falar com os treinadores e tudo mais, porque penso sempre que é algo mau, mas, quando entrei no gabinete, ele olhou para mim, sorriu e disse-me que a partir daquele dia fazia parte do plantel, integrava o plantel da Equipa A. Lembro-me de me levantar, abraçá-lo, cumprimentá-lo e ir todo contente ao balneário dizer ao António que eu ia ficar no plantel."
Golos nos dérbis em 2022/23: "Primeiro eu chutei e caí, depois comecei a festejar, e só depois é que me apercebi que os adeptos do Benfica estavam do outro lado, então fui a correr para lá, mas o António tratou disso, festejou por mim, por isso está tudo tranquilo. Mas é algo que eu posso tentar explicar, mas nunca vai sair da forma como eu sinto na realidade. Ainda hoje, posso ver o golo mais de 10 vezes e arrepio-me da mesma maneira."
Golos nos dérbis em 2023/24: "Esse foi mais emocionante. Continua a ser um golo de empate, mas foi mais emocionante também porque foi o meu primeiro golo na Luz. E foi novamente aos 90 mais uns minutinhos. Esse golo foi... é o mais especial da minha precoce carreira, porque foi o primeiro golo que eu fiz na Luz. Foi o golo do empate, e a cereja no topo do bolo foi o golo do Casper aos 90'+7'."
Plantel para 2024/25: "Treinei com a equipa uns dias, acho que estamos fortes, concentrados e motivados para o que aí vem. As contratações foram muito boas, gosto de todos, e acho que no treino dá para ver a união de grupo, apesar de estarmos juntos há pouco tempo, como equipa, mas a união de grupo está qualquer coisa de especial."
Diferentes: "Estamos mais motivados, estamos diferentes. Não é que no ano passado não queríamos ganhar, de todo. Nós queríamos ganhar."
Camisola por dentro dos calções: "A camisola para dentro dos calções foi uma regra imposta na Formação, quando eu jogava no CFT do Algarve. Havia sempre duas regras para jogar, que eram a camisola para dentro dos calções e a meia abaixo do joelho. Desde aí que eu cumpro a regra, rigorosamente, e foi uma coisa a que me fui habituando. Já não sei se a blusa para fora é mais confortável, ou não, neste momento jogo sempre de blusa para dentro. Então, fico confortável, e ficou uma imagem de marca."
Melhor momento no Benfica: "[Dérbi em casa, na época 2023/24] Em termos emocionais e dentro de campo, jogo jogado, sim... mas levantar o troféu do 38 deu-me muito mais prazer."
Melhor futebolista com que jogou no Benfica: "O Ángel Di María é um jogador que me impressiona muito pela positiva, o pé esquerdo dele é mágico, toda a gente sabe disso. Treinar com ele, e ver a tranquilidade e a precisão que ele tem com aquele pé, é fora do normal."
Quem mais surpreendeu: "Chiquinho. Pela maneira de estar, pela maneira de trabalhar e pela qualidade dele."