Candidato à presidência do FC Porto acusa a Direção de ter tornado o clube bairrista e considera que “é tempo de um novo acordar”
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Presente, esta quinta-feira, na Casa do FC Porto de Lausanne, André Villas-Boas voltou a lembrar que, “nos últimos 12 anos, o FC Porto adicionou 250 milhões de euros ao passivo” ao mesmo tempo que vendia “muito talento”, cuja “margem de ingresso foi muito, muito curta relativamente às vendas que fez”.
“Há muito dispêndio de dinheiro que está relacionado com comissões, intermediações, pagamentos a clubes terceiros, pagamentos a clubes formadores e a realidade é que o FC Porto nos anos em que vendeu mais não conseguiu criar riqueza”, referiu o candidato à presidência dos azuis e brancos, perante uma plateia de 140 adeptos do clube residentes na Suíça.
Segundo Villas-Boas, os anos em que o FC Porto ganhou mais foram aqueles “em que se perdeu uma oportunidade” para todos. “Ou seja, se olharmos para trás nestes últimos 20 anos, em que conquistámos duas Ligas Europa, uma Taça Intercontinental, uma Liga dos Campeões, e pensarmos que em vez de termos crescido perdemos a relação com os nossos adeptos, a relação com o nosso associativismo e entrámos em quase descalabro financeiro, parece quase uma irrealidade”, afirmou.
Ao constatar que “88 por cento” dos associados do FC Porto estão concentrados “em três distritos apenas" (Porto, Braga e Aveiro), o ex-treinador lamenta que a Sul e a Centro seja “um deserto”. “Resistem apenas os bravos fora da zona do Porto. E aqui também vocês (fora de Portugal)”, elogiou. “Nestes últimos 20 anos, onde podíamos ter crescido abruptamente por esse Mundo fora - somos uma marca forte, temos valores únicos, temos cultura Porto, de paixão, de desejo, de dedicação -, acabámos por nos tornar, infelizmente, num clube fechado, bairrista, em vez de crescermos nacionalmente como o melhor clube português, com o maior número de associados”, declarou.
Para André Villas-Boas, o FC Porto pagou “um preço muito elevado por ter tido uma Direção que se acomodou nestes últimos 20 anos e que acabou por tornar o clube, de certa forma, no seu quintal”. “Tivemos muito sucesso desportivo, devemos muito ao presidente Jorge Nuno Pinto da Costa. Continuarei a repetir o que já disse: será para sempre, para todos nós, o presidente dos presidentes do FC Porto. O seu legado e o seu passado serão sempre honrados por esta candidatura. Mas agora é o tempo de um novo acordar”, vincou, antes de enumerar as razões que sustentam esta convicção.
“O futebol assim o exige. Estamos a ficar para trás. E se não fosse a sagacidade de um treinador realmente especial, podia ter corrido realmente mal. É um treinador que consegue transformar a equipa fruto do seu grande amor pelo FC Porto, tem uma capacidade de motivar os seus atletas como ninguém, mas, de certa forma, mascarou o estado real das coisas que se passam no topo, na Direção", afirmou.