Villas-Boas: "Entristece-me que 88% dos sócios do FC Porto estejam em três distritos. 12% do nosso universo são os bravos num deserto"
Declarações de André Villas-Boas na sessão de esclarecimento a sócios, desta vez no salão nobre da Junta de Freguesia de Santa Maria da Feira
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A expansão do FC Porto: "É preciso esclarecer que cada meio tem determinado público e vende mais em determinados setores. Obedece a modelos de negócio. O outro lado é a expansão nacional da nossa voz. Entristece-me que 88% dos sócios do FC Porto estejam apenas em três distritos. 12% do nosso universo são os bravos num deserto. Têm uma voz forte, mas precisam de crescer também. Não crescemos nacionalmente em termos de associativismo nos últimos 20 anos como devíamos ter crescido. São dados que me chocam e percebemos porque somos maltratados às vezes. Temos imensos atletas dotados, funcionários, treinadores, que podem expandir o FC Porto internacionalmente e não o fazem."
FC Porto dos sócios: "Na parte do associativismo, acabou por desaparecer o sentido de pertença. Isso partiu o coração dos sócios. Temos um amor visceral pela família e pelo FC Porto. Estes amores passam-se de geração em geração, tal como outros, que não foram tocados pela sorte [risos]... São agora grandes rivais e líderes do campeonato, serão grandes competidores. A situação atual custa-nos profundamente. Deixamos de ser reconhecidos e de nos relacionarmos com o clube de uma forma semelhante à de outro tempo. Um sócio assiste aos jogos do FC Porto, mas não se sente envolvido pelo seio do associativismo. O FC Porto é dos sócios, sempre foi e sempre será. Ser um clube de associados é uma vantagem competitiva no futebol atual. Treinei clubes de associados e clubes onde o proprietário está presente. Mas ele não tem vínculo emocional igual. Treinei o clube de coração, trouxe-me dissabores familiares, porque praticamente não existia como pai e marido, vivia 24 horas a função de treinador do FC Porto. No caso das propriedades isso não acontece... Num clube desses, pode estar um proprietário americano, que depois vende a um saudita e depois vende a um russo... Isto não acontece no nosso caso, é uma vantagem competitiva que temos de aproveitar se nos fecharmos nos nossos valores. Ambicionamos mais e melhor. Na apresentação da minha candidatura lancei esse repto ao FC Porto. Porque não um FC Porto fundador da Associação Europeia de Clubes Associados? Como o Barcelona, a Real Sociedad... Há grandes mais-valias a tirar do espírito do associativismo a partir do momento em que os sócios se sentem envolvidos. Estamos a ser afastados de algo que tanto amamos."
As modalidades: "Nas modalidades, o atraso é significativo, principalmente nas modalidades femininas. A não ser pela Dragon Force, elas não existem, tirando o recente voleibol feminino, com muito sucesso. A nossa ideia é apoiá-las para manterem a sua capacidade competitiva. Sondámos os sócios relativamente às modalidades que gostariam de ter e houve muita gente que pediu o futsal e o futebol feminino, implementado nos escalões mais jovens, mas falta a transição para o sénior e profissional. Assumi esse compromisso, é algo que quis sentir dos sócios. Recebo muita gente na sede que quer o regresso das modalidades perdidas: o remo, a ginástica, o ciclismo, o hipismo... Não podemos chegar a todo o lado, é preciso projetos estruturados. Paralelamente à direção desportiva de futebol, teremos direção de desporto das modalidades, de forma a que se estruturem no feminino e nestas duas que queremos atacar imediatamente. Sobre o futsal há dois caminhos: o parecido com o do voleibol, através de parcerias estratégicas, cedendo o nome a alguém e acaba por ter todos os escalões montados. A outra é implementar progressivamente, que gera mais sentido de pertença com sócios, mas que temos de analisar os compromissos financeiros. Numa base geral, o projeto é apoiar as modalidades existentes, implementar estas duas e pediram o voleibol masculino e o atletismo, de fácil implementação. Gostaríamos de analisar isso quando chegássemos."

