Defesa-central de 41 anos coloca ponto final na carreira depois do Euro'2024 e de ter representado o FC Porto em 2023/24
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Pepe, internacional português e jogador do FC Porto até 2023/24, despediu-se esta quinta-feira do futebol, recorrendo às redes sociais para recordar todo o seu percurso - com passagens por Marítimo, Real Madrid e Besiktas além dos dragões - num vídeo comovente.
O central termina a carreira com um total de 31 títulos e 50 golos em 894 jogos oficiais disputados.
DECLARAÇÕES EM DESTAQUE
Sobre o euro'2024 e as lágrimas: "Foi de impotência, porque eu acreditava muito que íamos ganhar esse europeu. Sonhava que ia ganhar, pelo grupo que tínhamos, pelos jogadores que tínhamos. Como mais velho, sentia a paixão que os meus companheiros tinham. O trabalho deles foi incrível. Foram lágrimas de impotência, por não corresponder aos portugueses. A expectativa que eles criaram em nós... O saber que era o meu último jogo, que não ia ter outra oportunidade de poder dar essa alegria aos portugueses. Portanto... Pelo que foi o meu objetivo quando me naturalizei, sabia que ia terminar ali, que não teria outra oportunidade de dar alegrias ao nosso povo. Senti essa impotência nesse momento. Mas agradeço a todos os portugueses que acreditaram na nossa equipa. Nós, jogadores, falávamos que tínhamos uma grande seleção, um grande espírito. Todas as condições para poder ganhar o europeu. Tive a oportunidade de falar depois desse jogo e disse que o futebol é isso. Quatro dias antes tínhamos tido uma alegria enorme nos penáltis, quatro dias depois terminou esse sonho de poder dar, na minha última competição, dar alegria ao povo que me deu tanto. Foram as lágrimas por sentir que não dei essa alegria aos portugueses."
Agradecimentos: "Quero agradecer a deus por me ter dado sabedoria para poder seguir a minha jornada. Não posso deixar de agradecer a todos os presidentes que apostaram e acreditaram em mim. A todos os funcionários de todos os clubes por onde passei, são a alma e essência. E da seleção. A todos os meus companheiros, treinadores, que me fizeram crescer e competir diariamente. A todos os adeptos, que são a alma do futebol. Ao Jorge mendes, à Gestifute, à minha mãe, que foi essencial na minha trajetória por me ter deixado voar para o meu sonho, que era ser futebolista profissional. A todos os amigos e familiares, em especial à minha mulher, que foi o lar na minha ausência. Os meus filhos por acreditarem em mim, por serem apoio fundamental na minha vida, terem dado apoio quando saí de casa para jogar. Foram o apoio que precisava para poder ir de consciência tranquila. Agradecer a todos, deixar um agradecimento e um abraço de gratidão a todos. Muito obrigado a todos."
Chegada ao FC Porto em 2004: "Na minha primeira passagem, quando fui ao escritório do FC Porto, nas Antas, o presidente abre-me a cortina, levanta os estores e diz: 'Aquela vai ser a tua casa'. Bem-vindo, espero que sejas muito feliz no FC Porto. A tua felicidade será a nossa'. Retenho essas palavras, os jogos que fiz no Estádio do Dragão. Foi um clube que me colocou no olho do futebol europeu. Tive a oportunidade de poder ir para o Real Madrid."
Segunda passagem pelo FC Porto: "Fui recebido com enorme carinho dos adeptos e dos trabalhadores do clube, por quem tenho um carinho especial. Os títulos que ganhei... Neste meu último percurso tive um staff técnico que me ajudou bastante a continuar a ter esse gostinho pelo futebol. Acordar e ser privilegiado por fazer aquilo que mais amo, que é jogar. Os títulos que ganhei nessa segunda passagem pelo clube... Quando decidi voltar, foi voltar para o meu clube para poder continuar a dar alegrias aos meus adeptos."
Final da Taça de Portugal (não jogou): "A minha sensação nesse último jogo, numa competição tão bonita como a Taça de Portugal, que é a essência do futebol português... Queria muito ganhá-la. Em conversas em privado com o treinador [Sérgio Conceição] dizia-lhe que era muito importante nós ganharmos essa Taça. Eu sabia que ia ser o meu último jogo e o meu último título pelo clube. Acho que foi merecido, porque acabar com um título e esse título ser a Taça de Portugal, uma competição que representa a essência do povo português, o ajuntamento das pessoas no Jamor, as famílias, os amigos... É um dia de festa e queria dar essa alegria aos adeptos portistas, porque queria acabar a minha trajetória no FC Porto com esse título. Fiquei muito feliz por consegui-lo."
Escolhas difíceis: "O título que mais prazer meu deu no FC Porto foram todos. Não vou escolher um, mas vou escolher um momento que me marcou muito. O meu regresso, quando decidi voltar ao FC Porto. Muita gente dizia que estava louco, por ter outros clubes para onde podia ir. 'Fica mais dois anos fora de Portugal', diziam-me. Mas eu queria sentir novamente a atmosfera do Estádio do Dragão. Poder estar numa cidade que me deu muito. Agradeço muito ao FC Porto. O Porto deu-me a minha mulher e os três filhos que tenho. Toda a gente dizia que a primeira passagem foi muito boa, que se calhar ia ser mais difícil voltar a superar essa etapa. E demonstrei novamente, com títulos, trabalho e sacrifício, que consegui alcançar grandes objetivos, não só a nível pessoal, mas também coletivo."
Definir o que é ser português: "Humildade, gratidão, ser genuíno. Ser português é um orgulho imenso. Sei que não nasci aqui, mas considero-me português. Sou muito grato ao que Portugal me deu. De coração. O que tentei retribuir aos portugueses foi fazendo aquilo que melhor sei, que é jogar futebol. Conseguiu dois títulos pela Seleção, que me enchem de orgulho. Fazem-me ver que a minha luta por Portugal foi recompensada, que pude retribuir aos portugueses o que me deram. Abriram-me a porta de Portugal e deram-me a oportunidade de jogar e defender as cores de Portugal."
A opção por Portugal: "Quando anunciei que estava disponível para a Seleção foi num V. Setúbal-FC Porto. Nesse momento apanhei muita gente de surpresa, mas era o meu sentimento. Era o de poder chegar ao momento de vestir a camisola de Portugal no Estádio do Dragão. Foi aí que me estreei. Foi um turbilhão de emoção que senti. Sempre a colocar o interesse da Seleção em primeiro e lutando pelo que ia representar. Ser humilde dentro de campo, respeitar adversários, trabalhar o máximo e poder honrar as cores de Portugal. Um momento que nunca irei esquecer na Seleção... É difícil. A estreia teve muito significado, o meu primeiro título por Portugal, no Euro'2016. Mesmo em França sentíamos o carinho dos portugueses, dos emigrantes. O que íamos vendo na televisão, quando chegámos a Portugal com os caças a acompanharem-nos até ao aeroporto. Abrir a porta e ver o aeroporto parado, com toda a gente à nossa espera. O país parou para receber-nos. Foi lindo. Um momento marcante na minha carreira."