A luta pela nova seleção proletária beneficia com a permanência do selecionador. Não é uma guerra ganha
Os treinadores saem da seleção portuguesa sempre pela porta pequena. Quem tenha alguma cultura futebolística, contesta logo esta frase: todos os selecionadores, de todas as seleções, saem normalmente pela porta pequena. E eu insisto que, no caso português, a porta é ainda mais pequena, daquelas que nem os cães e os gatos usam. De Saltillo até ao estardalhaço da saída de Carlos Queiroz, passando pelos alhos e pelos passeios na praia de António Oliveira ou pelo desrespeito dos jogadores a Humberto Coelho, foi-se sempre arranjando maneira, mais ou menos original, mais ou menos fictícia, de ferir ou até acabar com as carreiras dos selecionadores, nos poucos exemplos em que não foram eles próprios a fazê-lo. Fernando Santos podia ter sido o primeiro - nos últimos 30 anos, pelo menos - a sair da Seleção diretamente para o altar-mor do mosteiro dos Jerónimos. Em vez disso, recusou os milhões estrangeiros que o Europeu lhe podia ter valido e renovou o contrato. Por um lado, é bom. Talvez não chegue ganhar um jogo para criar uma identidade nacional baseada na autoconsciência da nossa pequenez. Em Portugal, o lóbi do futebol gourmet é muito forte. Mal Fernando Santos virasse as costas, voltariam a suspirar pelo Brasil de 1982 e a reclamar Zicos, Falcões e Sócrates (o brasileiro, para não alarmar ninguém). Por outro lado, o selecionador fica obrigado a defender a tese da união, da competitividade e do sacrifício perante uma plateia cheia de peneiras que, em parte, só fingiu tolerar o Europeu operário. Sem taças, a conversa será outra.
