Tudo na mesma mão
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É possível que eu esteja a ler tudo isto à luz errada, e de qualquer modo ainda vai ser preciso esperar algum tempo até que não restem dúvidas sobre os resultados desta crise no Sporting. Hoje, o que me parece é que Jesus saiu fortalecido no status quo leonino.
Bruno de Carvalho criticou-o e criticou-o bem. Jesus é um grande treinador e faz agora um ano que quase operava um dos mais extraordinários milagres da história do futebol português. Mas era o que faltava o presidente de um clube como o Sporting não poder indignar-se com uma época tão miserável como a que agora finda.
Apesar disso, e menos curiosamente do que talvez fosse conveniente, Jesus conservou com facilidade não só o ónus, mas o próprio (digamos) privilégio da palavra sobre a sua continuidade. Vendeu a mensagem de que poderia ouvir outras propostas e ainda conseguiu mobilizar José Maria Ricciardi para um (vá lá) casualíssimo encontro de intercedência beata.
Já então os sinais apontavam todos no mesmo sentido: vitória do treinador. Teria de ser o inevitável post vespertino de BdC - sobretudo se fosse mal escrito, provando autoria efetiva - a declinar a impressão. Pois, feliz ou infelizmente, por cada burocrático sinal de autoridade há nele um ruidoso ponto de exclamação (ou outro superlativo qualquer) a brindar o treinador.
Quem saiba mais de semiótica poderá fazer melhor leitura. A mim, o que isto sugere é que Bruno de Carvalho quer muito reclamar a soberania, mas desconfia que não pode dar-se a esse luxo.
Resta saber porquê. Se é porque está demasiado amarrado ao treinador, contratual e estrategicamente, não será bom. Se é porque nem sequer concebe outra solução - e represente o Conselho Leonino o papel que nisso representar -, será pior.
