Canais dos clubes são armas pessoais, mesmo quando se contentam em disparar autoelogios
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Há uma revolução barulhenta no mundo dos desportos de massas. Competição a competição, todos vão construindo grandes plataformas multimédia, que monopolizam os conteúdos - entrevistas exclusivas, resumos, acesso aos balneários ou ao "boudoir" - e depois se valem dessa atenção para afogar o público em informação pasteurizada, tão relevante para o jornalismo como um cartaz de hipermercado. Com os preços de ontem. Os casos mais extremos estão, naturalmente, nos Estados Unidos (a liga de basebol é um exemplo notório), mas UEFA e FIFA não andam longe. Os fundos que já faltam aos órgãos de informação tradicionais, elas têm com fartura suficiente até para torcerem factos em forma de longa-metragem. Sepp Blatter pagou um filme que, contando a história da FIFA, o retrata a ele como uma mistura suíça de Mandela com Jacques Delors e James Bond. Em Portugal, desde que Fernando Gomes lá chegou, a FPF tem uma produção diária de notícias, entrevistas e fotos suficiente para encher meio jornal desportivo. Dez segundos depois do acontecimento, já está disponível um comunicado de Gomes em vídeo - desde que o acontecimento não seja, claro, infeccioso, como o resultado do Mundial ou a bandalheira da Liga. No fim, seja na UEFA, na FIFA, na FPF, na Benfica TV, no Porto Canal ou, agora, na Sporting TV, a verdadeira natureza das criaturas está logo no título: são armas pessoais. Melhor: são metralhadoras. Nem que só disparem rajadas de autoelogios.
