A escolha de José Peseiro, um treinador com habilidades específicas, sugere uma explicação para os tremores de terra
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José Peseiro, novo treinador do Braga, é um daqueles casos cujo reconhecimento público difere bastante da reputação que vão mantendo nos círculos profissionais. Correndo algum risco de fazer mal ao homem, tenho de escrever que lhe sucede o mesmo que a Carlos Queiroz, noutra fase da carreira do ex-selecionador. Por acaso, foi Queiroz quem internacionalizou Peseiro, seu adjunto no Real Madrid, depois de quatro épocas muito boas - e talvez já esquecidas pela maioria dos seus concidadãos - no Nacional da Madeira, que trouxe da II Divisão Nacional à I Liga em três anos. Quando saltou da Choupana para o Bernabéu, já não era um anónimo nos bastidores da bola; os clubes grandes tinham ouvido falar nele, sobretudo num talento particular que desenvolvera para mecanizar e rendilhar os ataques. Nos nove anos passados entretanto - incluindo uma final europeia pelo Sporting - não perdeu a fama de manter essa habilidade, ao ponto de haver quem o refira como um dos melhores especialistas portugueses. Em alturas diferentes, FC Porto e Benfica ponderaram ambos a possibilidade de o deixarem experimentar a fórmula em máquinas mais potentes, mas o regresso a Portugal acaba por fazer-se com vistoria prévia na alfândega, função desempenhada pelo Braga desde que Jesualdo Ferreira foi exportado, com sucesso, para o Dragão. Embora António Salvador não tenha a mesma cilindrada para oferecer a Peseiro, a contratação sugere pelo menos uma explicação para os últimos tremores de terra no Minho: o presidente ter-se-á cansado de esperar, fartou-se dos treinadores seguros e realistas e quer passar imediatamente ao ataque.