Primeiro foi André Villas-Boas a dizer que, se um dia regressasse a Portugal, não faria sentido treinar o Benfica ou o Sporting. Depois foi Cristiano Ronaldo a explicar que, na sua galeria de troféus, a grande lacuna é hoje o título de campeão português pelos leões. Falam de barriga cheia? Admitamos que sim, se quisermos mesmos ser cínicos. Por outro lado, nem Adrien nem William Carvalho têm os currículos ou sequer as contas bancárias atestados/as e ambos também já haviam sugerido, cada um à sua maneira, que dificilmente os atrairia jogar num rival direto do Sporting, o clube que um dia representou o limite das suas ambições. Eu, que aprendi a gostar de acreditar, vejo aqui (aqui e não só) crescentes sinais de que o clubismo está de regresso. E, como também gosto de perceber o futebol à luz da História e dos ciclos da nossa psique coletiva, vejo nesse regresso uma humildade e uma emoção que, além de gratidão, expressa uma certa sensibilidade para com o estado do país, para com os desafios por que passam as suas famílias e para com os sonhos de justiça e de bondade (mesmo sem milhões, isto é) que, por esta altura, povoam tantos pais e mães portugueses. Os cínicos da ética queirosiana hão de chamar-me esotérico, como um dia eu próprio chamei aos tipos como aquele em que a idade me vem tornando. Não me importo. Feliz ou infelizmente, sou ateu, não acredito nos astros e continuo a rir-me do poder da atração. Mas, em 2014, vou ter em vista o lado decente do Homem. E o clubismo, tendo zonas cinzentas, continua fundamentalmente mais decente e belo do que o mercado e as suas oportunidades.
As contratações de inverno
Recapitulo o mercado de inverno dos últimos anos e encontro, quando muito, três ou quatro boas contratações pelos três clubes grandes: João Pereira pelo Sporting, Lucho González e Danilo pelo FC Porto, eventualmente (e antes disso) Ruben Micael pelo FC Porto também. Quase tudo o resto foi gastar dinheiro para nada. Talvez Quaresma seja nova exceção, e bem pode acontecer que, dado o equilíbrio no campeonato, essa exceção venha a fazer toda a diferença. Mas ainda não será suficiente para tornar a reabertura do mercado numa coisa vantajosa para a qualidade (ou sequer a competitividade) da nossa Liga.
