A não ser que tenhamos enlouquecido todos, não há nenhuma hipótese de o FC Porto ser desclassificado da Taça da Liga por causa da utilização de Fabiano, Abdoulaye e Sebá frente ao Setúbal. A expressão "72 horas" tem de ser entendida ao espírito ("grosso modo", portanto, "três dias"), até porque uma equipa ser privada de um jogador que seja, em qualquer competição, por via dos condicionalismos de uma transmissão televisiva seria um absurdo. De resto, todo o artigo do regulamento dedicado a esta matéria tem necessariamente de ser interpretado assim - ou seja, ao espírito -, caso contrário estaremos apenas no início de um belíssimo imbróglio legal. Se a Imprensa o transcreveu devidamente, o que diz o artigo 13º é: "(...) Qualquer jogador só poderá ser utilizado pela equipa principal ou B decorridas 72 horas após o final do jogo em que tenha representado qualquer uma das equipas." E eu nem vou questionar a habilidade dos juristas da Liga para a escrita do Português, porque então entrávamos numa discussão sem fim. O que sei é que, à letra, o que ali diz é que nunca um jogador pode fazer dois jogos em menos de 72 horas, mesmo que esses jogos sejam da mesma equipa. O que não é o que a Liga pretende impor, note-se: é apenas o que a sua deficiente redação descreve. E todos estes argumentos de defesa juntos, já agora, são quase tão válidos para as pretensões do Braga como para as do FC Porto. Quase.
Kafka ataca II
De repente, o mais divertido na história da tensão entre Mourinho e um grupo de jogadores do Real Madrid (ou vice-versa) deixou de ser a tensão em si própria, ou a posição do treinador, ou sequer o lugar que Ronaldo ocupará na equação. Na verdade, o mais divertido passou a ser a maravilhosa possibilidade de marketing de que a "Marca" veio a dispor a troco de rigorosamente nada. Então, a fonte anónima do Real Madrid escolhe pronunciar-se sobre um tema tão delicado através de SMS, deixando ali o nome e o número de telefone mesmo à mão de quem queira comprová-los (ou de um jornal que pretenda bater no peito com a sua ocultação)? É de uma assertividade dos diabos, realmente. Que pena o Garganta Funda não ter feito a mesma coisa no Watergate. Tinha-se poupado imenso em investigação sobre a sua identidade.
