Henton admite, em entrevista a O JOGO, que teve de fazer cedências para prolongar o contrato, mas não queria sair do Dragão depois de um ano em jejum de títulos. Recuperação a foi prova de que está "bem vivo"
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Helton é, por norma, uma pessoa ponderada, tranquila entre os postes e também fora deles, mas ainda se emociona quando recorda o calvário por que passou desde março de 2014 até janeiro de 2015, altura em que regressou aos relvados. Em exclusivo a O JOGO, o guarda-redes conta como foi o longo processo de recuperação e não esconde alguma amargura por muitas coisas que ouviu quando estava lesionado. Garante que nunca lhe passou pela cabeça desistir porque não queria que a família e os amigos tivessem como última imagem dele a saída em maca de Alvalade.
Nesta conversa, Helton passa em revista a época passada, a primeira em que nada venceu, e projeta a próxima. Só não quis falar sobre Julen Lopetegui....
Reforma é uma palavra que o assusta?
-[risos]. Não, mas também não penso nisso, confesso.
Em junho de 2012, disse que pensava acabar a carreira apenas 20 anos depois. Mantém a mesma força de vontade?
-Jogar mais vinte anos não digo, talvez uns quinze... A força de vontade é sempre a mesma, mas sabendo que tenho como objetivo terminar a carreira com vitórias. Isso é o mais importante.
O FC Porto não ganhou nada esta época. Essa foi uma das razões que o levaram a querer continuar?
-Sem dúvida. Foi uma das coisas que me ajudaram a aceitar renovar.
Este é o último contrato?
-Honestamente ainda não sei. Vamos ver o que é que o "papai" do céu tem guardado para mim.
Disse que não negociou, mas sim conversou com Pinto da Costa. Como foi?
-Até pela forma de o FC Porto, em geral, ver as minhas atitudes e forma de lidar com as coisas, não havia assim tanta dificuldade para conversar comigo. É óbvio que tive de abdicar de algumas coisas, mesmo não querendo, mesmo achando que mereço, mas isso faz parte da vida e é a conversar que a gente se entende.
Foi a época mais difícil da carreira?
-Sem dúvida, não só pela forma como aconteceu a renovação, já depois de o campeonato ter acabado, e por não ter ganho qualquer título, mas sobretudo pelo que tive de lidar durante muito tempo. A recuperação de uma lesão grave, a aceitação... não foi nada fácil. Foi a pior época que tive. Não só por ficar de fora, mas também por tudo o que ouvia dizer sobre mim. No futebol, esquece-se muito facilmente as coisas que somos capazes de fazer. Duvida-se bastante das capacidades das pessoas. Somos seres humanos e, por vezes, esquecem-se disso, julgando a nossa pessoa. Mas Deus não dorme e continuo aí, a trabalhar normalmente.
É fácil criticar quem está no chão...
-É mais fácil pisar no morto, sem dúvida, mas eu provei que estou bem vivo.
Como foi passar grande parte da época na bancada?
-Como sempre disse, ninguém nasce titular, não começamos a jogar futebol tendo contrato e garantia de que vamos jogar. É preciso demonstrar durante a semana que merecemos. Neste caso, não podia sequer lutar pelo meu lugar, só podia torcer pelos meus companheiros. Ficou chato.
Em algum momento lhe passou pela cabeça desistir?
-Não. Não podia terminar a carreira numa maca. A minha família dizia-me a toda a hora que ainda podia dar muita coisa ao futebol e eu pensei dessa forma também.